Economista desenvolvimentista morre aos 83 anos
Lessa foi o primeiro presidente do BNDES nos governos petistas, quando teve embates com a equipe econômica
O economista Carlos Lessa, professor emérito do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de 2003 a 2004, morreu, aos 83 anos, na manhã de ontem no Rio. Lessa estava internado no hospital Copa Star, e foi diagnosticado com covid-19, conforme nota do Instituto Brasilidade, fundado por Lessa. O hospital não confirmou a causa da morte. Lessa vinha enfrentando problemas respiratórios desde que teve um pneumonia ano passado, disse uma pessoa próxima.
Nascido no Rio em 1936, Lessa era um dos expoentes, no meio acadêmico, da linha teórica “desenvolvimentista” nos estudos sobre economia. Formado economista em 1959 pela então Universidade do Brasil – que daria origem à UFRJ –, no início dos anos 60, foi professor de cursos intensivos sobre desenvolvimento econômico da Comissão de Estudos Econômicos para a América Latina (Cepal), das Nações Unidas.
Data dessa época seu livro mais conhecido, Introdução à economia: uma abordagem estruturalista, em coautoria com o economista Antonio Barros de Castro, que também seria presidente do BNDES de 1992 a 1993. Em 2011, foi lançada a 38.ª edição do livro, pela editora GEN.
Após o golpe militar de 1964, Lessa deixou o País e trabalhou no Instituto Latino-americano de Pesquisas (Ilpes), no Chile. De volta ao Brasil, fez doutorado no Instituto de Economia da Unicamp, no fim da década de 70. Na mesma época, começou a carreira como professor titular da UFRJ.
Paralelamente, Lessa trabalhou em diferentes governos. Filiado histórico do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), foi diretor do Fundo de Investimento Social (Finsocial) do BNDES entre 1985 e 1988, no governo José Sarney (1985-1990).
No fim dos anos 80, Lessa teve uma passagem pela Unicamp. Nos anos 90 voltou à UFRJ e colaborou com o governo de César Maia em seu primeiro mandato como prefeito do Rio. No início de 2002, foi eleito reitor da UFRJ, cargo que ocupou até assumir a presidência do BNDES. Primeiro presidente do BNDES nos governos do PT, Lessa ficou no cargo até o fim de 2004, tendo colecionado polêmicas e embates com a parte da equipe econômica tida como “liberal”, como o Banco Central (BC).
“Lessa dedicou seis décadas à apresentação de propostas para o desenvolvimento do Brasil, que nos ofereceriam as garantias soberanas para um caminhar independente”, diz a nota do Instituto Brasilidade, hoje comandado por Darc Costa, que foi vice-presidente de Lessa no BNDES.
No banco de fomento, a gestão de Lessa foi marcada por uma guinada no sentido de que o BNDES deveria se expandir para fomentar a economia, em oposição ao papel mais dedicado à privatização de estatais, assumido nos governos do PSDB nos anos 90.
Com a notícia do falecimento de Lessa, as redes sociais foram inundadas com mensagens de pesar, especialmente de políticos e economistas. “Foi um homem apaixonado pelo Brasil e pelo Rio de Janeiro, com imensas contribuições ao País”, diz a nota divulgada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador José Serra (PSDBSP) lamentou “a morte do meu querido amigo e brilhante economista”. “Foi com ele que eu comecei a estudar economia no Chile, quando estive exilado. Ele era funcionário da ONU e professor da Cepal”, escreveu Serra.
“Tive a sorte e o privilégio de ser seu aluno na UFRJ e Lessa foi um dos melhores professores que já tive”, postou Nelson Barbosa, pesquisador da FGV e ex-ministro da Fazenda.
O BNDES publicou nota prestando “homenagem e sentimentos” à família de Lessa. Também em nota, a AFBNDES, associação de funcionários do banco, destacou que Lessa “foi de uma geração que testemunhou, soube reconhecer e se esforçou para entender o arranque do desenvolvimento brasileiro nos anos de 150”.
“Que descanse em paz. Aos que têm afeição por ele comunicaremos uma cerimônia virtual por causa da pandemia”, escreveu um de seus três filhos, o músico Rodrigo Ribeiro Lessa, em postagem no Facebook.