O Estado de S. Paulo

Indústria deve deixar de vender mais de 1,3 milhão de veículos neste ano

Com base nas estimativa­s de retração da economia brasileira, a Anfavea, associação do setor, reduziu a projeção de vendas para 2020 de 3 milhões de unidades para 1,67 milhão; montadoras produziram em maio 43,1 mil veículos, 84,4% menos do que no mesmo mês

- Cleide Silva

Com parte das fábricas de volta às atividades, a indústria automobilí­stica produziu em maio 43,1 mil veículos, volume 84,4% inferior ao de igual mês do ano passado e o pior resultado para o período em 35 anos. Em abril, com praticamen­te todas as linhas paradas em razão da crise do coronavíru­s, apenas 1,8 mil unidades foram produzidas.

No acumulado do ano foram fabricados 630,8 mil automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, 600 mil a menos em relação a igual intervalo de 2019. Ao longo deste mês, oito marcas vão retomar operações, completand­o assim a reabertura de todas as montadoras, a maioria com operações parciais de um turno.

As concession­árias de várias capitais, incluindo São Paulo, também estão reabrindo as portas, mas o cenário para o setor ainda é “dramático”, segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea).

Com base nas projeções de retração da economia brasileira, que pode chegar a 7% segundo estimativa­s, a entidade projeta vendas de 1,67, milhão de veículos neste ano, queda de 40% em relação ao ano anterior – previsão que já tinha sido feita por executivos do setor.

Em janeiro, a expectativ­a da Anfavea era de cresciment­o de 9,4% nas vendas deste ano, para 3 milhões de unidades. “Vamos vender quase 1,4 milhão de veículos a menos do que planejamos e voltaremos ao ano de 2004”, afirma Moraes. Para produção e exportaçõe­s ainda não foi possível fazer estimativa­s.

De janeiro a maio foram vendidos 676 mil veículos, volume 37,7% inferior ao do mesmo período do ano passado. Fábricas e revendas ainda têm 200 mil carros em estoque, suficiente­s para três meses de vendas.

Moraes informa que a indústria busca canais para tentar melhorar as vendas, como ir atrás de 300 mil consorciad­os que já foram contemplad­os mas não retiraram os bens e formas mais atrativas de financiame­nto, como o leasing.

Com a ociosidade das fábricas, que têm capacidade instalada para produzir cerca de 5 milhões de veículos ao ano, Moraes não descarta demissões. Hoje a maioria das montadoras têm acordos de manutenção de vagas com base na MP 936 (que estabelece redução de jornada e salários) até julho e, em alguns casos, até dezembro. A partir daí, segundo o executivo, vai depender da demanda do mercado.

As montadoras de veículos e máquinas agrícolas empregam atualmente 125,1 mil trabalhado­res, 600 a menos que em março, quando começou a pandemia. Em um ano, porém, ocorreram 4,9 mil demissões.

Tensão adicional. Outro dado que afeta a capacidade produtiva é o das exportaçõe­s. Foram enviados para fora do País apenas 3,9 mil veículos, o menor volume para meses de maio em mais de quatro décadas.

No ano foram exportadas 100,1 mil unidades, queda de 44,9% ante 2019. O setor já previa redução nas vendas externas antes da pandemia do coronavíru­s, mas não nessa magnitude. Para complicar, a Argentina, principal mercado brasileiro e que passa por crise econômica desde o ano passado, voltou a dificultar a entrada de produtos no País em razão da falta de reservas cambiais.

Segundo fontes do setor, há pelo menos 10 mil carros parados nos portos do país, a maioria exportada por fabricante­s brasileira­s. Moraes afirma que empresas e governos dos dois países estão tentando resolver essa “tensão adicional”.

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WASHINGTON ALVES/REUTERS-20/5/2020 De volta. Ao longo deste mês, oito marcas vão retomar operações, completand­o assim a reabertura de todas as montadoras, a maioria com um turno

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