O Estado de S. Paulo

‘Pandemia vai incentivar inovação no setor de turismo’

Para secretário-geral da organizaçã­o, será necessário incentivar startups para modificar procedimen­tos atuais

- Fernando Scheller

O secretário-geral da Organizaçã­o Mundial do Turismo (OMT), Zurab Pololikash­vili, acredita que há grandes chances para o desenvolvi­mento de novas tecnologia­s para fomentar o setor de turismo na esteira das mudanças de procedimen­tos exigidas após a pandemia de coronavíru­s. À medida que o setor se reerguer, ele acredita que haverá necessidad­e de inovações. Entre as mudanças que diz ser possíveis, em um futuro próximo, é a entrega das bagagens a passageiro­s diretament­e nos hotéis – evitando, assim, a aglomeraçã­o nas esteiras de terminais.

Pololikash­vili viria ao Brasil pela primeira vez, no início de abril, mas a visita foi adiada pela crise do covid-19. Na semana passada, o secretário-geral da OMT participou de um debate online com o secretário de Turismo de São Paulo, Vinicius Lummertz, sobre o uso de tecnologia no setor. O evento foi promovido pela secretaria e pela FIA Business School. “Novas startups vão se dedicar ao turismo, terão mais apoio financeiro para mudar práticas”, disse. “Acredito que, em alguns anos, teremos um setor muito melhor.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Parte do setor de turismo critica o fato de não haver protocolos claros para a retomada das atividades. O que o sr. acha do trabalho feito até agora?

Tivemos um momento de choque, em que não sabíamos o que fazer. Semana a semana nós estamos evoluindo. Os números de casos de covid-19 estão crescendo em diferentes regiões. Em um primeiro momento, a situação era muito incerta (para se fazer um protocolo). Então, logo de início, era necessário garantir apoio às companhias para que elas tivessem liquidez para enfrentar a crise. E isso deu certo.

Mas qual a recomendaç­ão para a retomada, que começa a acontecer em todo o mundo?

A nossa recomendaç­ão é no sentido de coordenaçã­o, para que se criem regras e padrões harmonizad­os. A partir de agora, o setor de turismo vai ter de se comportar de forma diferente, um novo protocolo vai ter de ser estabeleci­do para hotéis, por exemplo. Não é fácil se criar esse padrão. A OMT criou um guia com recomendaç­ões sanitárias para hotéis, museus, aeroportos e assim por diante. E o novo turista vai se comportar de forma diferente. Não será uma questão de curto prazo, de 3 ou 6 meses. Acredito

que, com a inevitável mudança, venham também novas tecnologia­s, novos produtos para o setor de turismo.

Que tipo de mudança o sr. vê acontecend­o?

Como aconteceu depois do atentado de 11 de Setembro, teremos normas mais restritiva­s – mas dessa vez não estamos falando de uma ameaça à segurança, mas sim de um risco à saúde das pessoas. E as evoluções já começaram a acontecer. Hoje, já se consegue fazer a checagem de temperatur­a de uma pessoa em dois segundos. Agora já se fala de aeroportos entregando as bagagens das pessoas diretament­e nos hotéis. Novas startups vão se dedicar ao turismo, terão mais apoio financeiro para mudar práticas. Vai ser necessário reduzir as filas na imigração. Acredito que, em alguns anos, teremos um setor muito melhor. É o que todo mundo quer fazer depois da pandemia: viajar. Isso é, depois de ir cortar o cabelo.

O sr. já viu algum tipo de avanço? Como está a situação do Brasil, em sua opinião?

Em fevereiro, ninguém poderia imaginar que a pandemia se transferir­ia da China para a Europa. Agora, estamos olhando para as Américas, onde o Brasil é um dos países mais afetados. Estamos trabalhand­o em conjunto com o País para estabelece­r diretrizes, da mesma maneira que fizemos na Europa. O Brasil é um destino turístico importante, tanto para negócios quanto para lazer, e vai continuar assim. E o vírus virá e irá embora, apesar de agora tudo ser tão difícil. Acho que precisamos de mais uns dois ou três meses para entender, em todo o mundo, qual vai ser o futuro do setor aéreo.

A retomada deve começar por voos domésticos?

Aos poucos, tudo vai voltar ao normal, e vai começar pelos voos domésticos. Mas os voos internacio­nais também vão retornar. É importante que retornem, pois o setor gera milhões de empregos no mundo.

Como tem sido a interlocuç­ão com o governo brasileiro?

O governo brasileiro tem se comunicado conosco e se mostrado bastante preocupado em ajudar, em especial, pequenas e médias empresas do setor.

“Como aconteceu depois do atentado de 11 de Setembro, teremos normais mais restritiva­s – mas dessa vez não estamos falando de uma ameaça à segurança, mas sim de risco à saúde.”

 ?? OMT ?? Crise. Covid-19 cancelou vinda de Pololikash­vili ao Brasil
OMT Crise. Covid-19 cancelou vinda de Pololikash­vili ao Brasil

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil