Caminho até o outro
Andrew Solomon, autor do best-seller sobre depressão O Demônio do Meio-Dia, publicou no Brasil, em 2018, Lugares Distantes (Companhia das Letras) – uma obra em que defende que o ato de viajar pode mudar o mundo.
Não se trata de um manual de turismo mostrando as belezas do s países, e se fosse assim nem caberia aqui, agora. A obra é um convite para conhecer o outro e, conhecendo o outro, e sua realidade, suas lutas e suas dores, combater a intolerância.
O livro traz ensaios e reportagens escritos ao longo de mais de 20 anos e mostra lugares em momentos de transição. União Soviética, Afeganistão, África do Sul, Japão, Senegal, China, Gana, Ruanda, Brasil. Aliás, no texto sobre o Rio, de 2011, vislumbramos uma cidade que se preparava para sediar a final da Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, que tinha o “olhar para o futuro” e vivia uma “florescente economia”. Quando o livro saiu, o Rio, mais sombrio, estava sob intervenção federal.
Se houve melhora depois, portanto, nem sempre é possível dizer. Mas havia a esperança de dias melhores.
O que Solomon aprendeu com isso tudo é que, mesmo que venha o desânimo com promessas não cumpridas e projetos irrealizáveis, não devemos desistir – e cita Gramsci, para quem, em uma revolução, é preciso ter o pessimismo da razão e o otimismo da vontade. Ele explica: “Racionalmente, sabemos que o que ocorre é um desastre real, mas é um grande desastre com uma solução. Temos que continuar tendo esperança e pensar que conseguiremos encontrar uma solução”.
Aprendeu também que o melhor jeito de conhecer um país é pelo olhar do outro, pelo olhar daqueles que estão refletindo sobre sua sociedade. E que a melhor forma de conhecer o outro é viajando. Você pode substituir o verbo viajar por ler neste momento.
Quer entender as raízes e os efeitos do racismo e discutir os protestos pela morte de George Floyd ou de Miguel? Comece lendo livros de autores negros ou que se debruçam sobre a discriminação racial. Um deles, Não Basta Não Ser Racista: Sejamos Antirracistas, de Robin DiAngelo, acaba de esgotar nas livrarias americanas com o aumento da procura nos últimos dias. Saiu aqui em março pela Faro. Como Ser Antirracista, de Ibram X. Kendi, também virou best-seller e está disponível pela Alta Books. Djamila Ribeiro lançou Pequeno Manual Antirracista (Companhia das Letras). Tem também Grada Kilomba, com Memórias da Plantação: Episódios de Racismo Cotidiano (Todavia). E muitos outros. Tem filhos adolescentes? Sugira O Ódio Que Você Semeia (Galera), de Angie Thomas.