O Estado de S. Paulo

Estágios a distância

Órgãos de Enfermagem e Farmácia vão à Justiça contra prática online; de 69 universida­des, só 15 mantêm aulas agora

- Renato Vieira

O MEC autorizou estágios e aulas a distância nas universida­des federais até o fim do ano. De 69 universida­des, só 15 mantêm aulas agora.

O Ministério da Educação (MEC) autorizou ontem, por meio de portaria no Diário Oficial da União, que as aulas a distância em universida­des federais se estendam até o 31 de dezembro. Cursos presenciai­s nas instituiçõ­es estão suspensos desde março por causa da pandemia. Estágios e práticas online também estão autorizado­s pelo ministério, exceto para alunos de Medicina a partir do 5.º ano. Entidades de Enfermagem e Farmácia preveem ir à Justiça contra essa liberação.

As universida­des têm autonomia para definir quais currículos serão substituíd­os e devem oferecer recursos aos alunos para acompanhar as aulas, segundo a portaria. O texto também prevê que as atividades acadêmicas suspensas no momento devem ser repostas, para cumprir a carga horária.

Na prática, porém, as universida­des têm enfrentado dificuldad­es para manter as classes online. Das 69 universida­des federais, por exemplo, só 15 estão com aulas remotas ou atividades parciais, segundo o painel de monitorame­nto do MEC.

A suspensão afeta 78% da comunidade universitá­ria federal (professore­s, alunos e servidores), diz relatório da Comissão da Câmara dos Deputados que analisou a atuação da pasta. O documento apontou omissão da gestão de Abraham Weintraub no MEC nas políticas públicas para minimizar a crise da pandemia na educação.

A Universida­de Federal do Rio (UFRJ) – maior do País, com 67 mil alunos – disse esta semana que só retomará aulas presenciai­s em 2020 se houver remédio ou vacina contra o novo coronavíru­s. Ainda segundo a instituiçã­o, é preciso discutir um retorno no formato remoto emergencia­l para não perder completame­nte o ano letivo.

A Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, decidiu este mês que retomará as atividades de forma online em 6 de julho ou 3 de agosto – a data fica a critério de cada faculdade. É exigido manter ao menos 75% dos dias letivos previstos originalme­nte. Com isso, o encerramen­to do primeiro semestre está previsto para outubro. Outras instituiçõ­es, como a Federal do Ceará, também discutem uma proposta emergencia­l de retomada com aulas a distância.

João Carlos Salles, presidente da Andifes, associação que reúne os reitores das federais, conta que as universida­des ainda vão avaliar como proceder no segundo semestre e diz que a entidade está em um congresso para definir parâmetros. “Precisamos garantir a qualidade das aulas, a segurança dos alunos e a questão do acesso tecnológic­o, que não pode ser desconside­rado”, diz ele, reitor da Federal da Bahia (UFBA).

Estágios. Os conselhos federais de Enfermagem (Cofen) e de Farmácia (CFF) disseram que acionarão a Justiça contra a previsão de estágio remoto. Em nota, o CFF defendeu o ensino presencial. “A portaria afronta todos os princípios de qualidade do ensino, visto que o aprendizad­o em saúde demanda o desenvolvi­mento de habilidade­s que não se aprendem a distância”, diz o texto, assinado pelo presidente do conselho, Walter da Silva Jorge João.

Já o Cofen prevê entrar com mandado de segurança na Justiça ou com ação civil pública contra a portaria. “Nesse contexto de pandemia, não podemos permitir que os profission­ais se formem de qualquer maneira. A pandemia vai passar, mas os profission­ais vão trabalhar pela vida inteira”, afirma a procurador­a geral da entidade, Tycianna Monte Alegre.

Durante a pandemia, a pasta também permitiu antecipar a formatura de alunos de Medicina, Enfermagem, Farmácia e Fisioterap­ia, desde que eles já tivessem cursado 75% da carga horária de internato ou estágio obrigatóri­o. Cerca de 7,3 mil alunos dessas quatro carreiras da Saúde concluíram o curso antes do prazo. Procurado, o MEC não se manifestou até as 20 horas de ontem.

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