O Estado de S. Paulo

OMS suspende em definitivo testes com hidroxiclo­roquina

Remédio não apresentou benefícios contra a covid-19, segundo a entidade; ensaio pesquisa eficácia de tratamento­s

- Guilherme Bianchini

A Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) suspendeu em definitivo os testes com a hidroxiclo­roquina no ensaio clínico global Solidaried­ade, pois o remédio não apresentou benefícios contra a covid-19. A entidade anunciou a decisão ontem com base nos dados de pacientes que utilizaram a droga. O Solidaried­ade pesquisa a eficácia e a segurança de possíveis tratamento­s para a covid-19, com voluntário­s em dezenas de países.

“As evidências dos ensaios sugerem que a hidroxiclo­roquina, quando comparada com o padrão de tratamento em pacientes hospitaliz­ados, não reduz a mortalidad­e. Com base nessa análise e nas revisões publicadas, chegamos à conclusão de interrompe­r os estudos randomizad­os com hidroxiclo­roquina no Solidaried­ade”, explicou Ana Maria Henao-Restrepo, chefe do departamen­to de pesquisa de vacinas da OMS.

A entidade selou a decisão em reunião ontem entre o Comitê Executivo da OMS, o Comitê de Segurança e Monitorame­nto de Dados do Solidaried­ade e os principais pesquisado­res do projeto. O grupo fez uma revisão sistemátic­a das informaçõe­s sobre a hidroxiclo­roquina para observar o nível de segurança nos pacientes tratados com a droga.

O órgão também considerou os dados publicados por pesquisado­res do Reino Unido em outro ensaio clínico, o Recovery (Recuperaçã­o). Os britânicos suspendera­m os testes com a hidroxiclo­roquina em 5 de junho, sob a justificat­iva de o remédio não apresentar “efeitos benéficos” para pacientes hospitaliz­ados com a covid-19.

“A decisão é um resultado dos ensaios, e não se aplica ao uso ou à avaliação da hidroxiclo­roquina como prevenção para covid-19. Essa é uma situação com um foco diferente no Solidaried­ade”, esclareceu Ana Maria

Henao-Restrepo.

A hidroxiclo­roquina foi motivo de reviravolt­as na OMS nas últimas semanas. Após suspender temporaria­mente, em 25 de maio, o uso da droga no Solidaried­ade, a entidade retomou os testes com o medicament­o em 3 de junho. A confusão se deu em razão de um estudo publicado no periódico científico The Lancet, que indicava um aumento do risco de morte em infectados que tomaram o remédio. O estudo, porém, se mostrou controvers­o, o que forçou a revista a retirar o conteúdo do ar.

Sem evidências. No Brasil, o uso da cloroquina e da hidroxiclo­roquina é defendido por Jair Bolsonaro. Por pressão do presidente, o Ministério da Saúde liberou o remédio para todos os pacientes da covid-19. “É o que tem. Ou você toma a cloroquina ou não tem nada”, justificou Bolsonaro. Nesta semana, o Ministério da Saúde ampliou a recomendaç­ão de uso da cloroquina para gestantes e crianças, mesmo sem qualquer evidência científica de eficácia da droga.

Efeito nulo

“A hidroxiclo­roquina, quando comparada com o padrão de tratamento em pacientes hospitaliz­ados, não reduz a mortalidad­e.”

Ana Maria Henao-Restrepo

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