Investimentos estrangeiros despencam
O efeito da pandemia de covid-19 sobre o fluxo de investimentos estrangeiros diretos em 2020 está sendo dramático. Esses investimentos deverão diminuir cerca de 40% em relação ao total contabilizado no ano passado, de US$ 1,54 trilhão, ficando abaixo de US$ 1 trilhão pela primeira vez desde 2005, de acordo com a projeção do Relatório dos Investimentos Mundiais 2020 elaborado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Para os países da América Latina e do Caribe, a projeção é ainda mais restritiva. Esses países receberão neste ano apenas metade do total de US$ 164 bilhões que obtiveram no ano passado.
“A pandemia mescla dificuldades políticas e sociais com fragilidades estruturais em vários países, levando a região a uma recessão profunda e colocando-a diante de desafios ainda maiores para atrair investimento estrangeiro”, diz o relatório. A queda dos preços internacionais de petróleo e das commodities em geral, itens de grande peso na pauta de exportações dos países latino-americanos, torna o problema ainda mais sério.
No ano passado, o volume de investimentos diretos estrangeiros na região aumentou 10% em relação a 2018. O Brasil, principal destino dos investimentos diretos estrangeiros na América Latina, foi responsável por boa parte desse aumento, pois recebeu US$ 72 bilhões, 20% mais do que em 2018. O ingresso de capitais externos no País foi estimulado pela indústria de petróleo e gás, pelo setor de energia elétrica e pelo programa de privatizações.
O quadro se inverteu. O impacto da pandemia sobre a atividade econômica e as incertezas quanto aos resultados das medidas de isolamento social e, sobretudo, quanto à situação política podem levar os estrangeiros a avaliar com mais cautela os investimentos no País.
Privatizações programadas para este ano, que poderiam superar as realizadas em 2019 e ampliar o ingresso de investimentos externos, foram adiadas. Assim, o Brasil será “afetado significativamente” pela queda do fluxo desses recursos neste ano.
E não haverá grande melhora em 2021, pois a Unctad prevê que a situação só começará a se normalizar em 2022. E isso poderá ocorrer sob condições mais restritivas, pois a pandemia pode levar governos a adotarem políticas protecionistas em áreas que considerem estratégicas.