O Estado de S. Paulo

‘Vejo a Selic a 2,25% por pelo menos um ano’

Economista afirma que corte anunciado pelo BC foi ‘compatível’ com um cenário de inflação sob controle em 2020 e 2021

- André Loes, ex-presidente do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), atual sócio e economista da Kairós Capital Renato Jakitas

Ex-presidente do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o hoje sócio da Kairós Capital Andre Loes acredita que o Banco Central chegou ontem ao fim do atual ciclo de redução da taxa básica de juros (Selic). Segundo ele, o corte de 0,75 ponto porcentual foi certeiro, mas, para evitar riscos de instabilid­ade financeira, sobretudo na cotação do dólar, quedas adicionais “vão depender de uma combinação bem mais específica”.

“Aposto (em uma taxa básica de juros) nos atuais 2,25% por pelo menos um ano”, diz ele. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Estadão.

Como o sr. avalia esse novo corte da Selic?

Achei compatível com uma inflação que vai permanecer abaixo da meta em 2020 e em 2021, ainda que no ano que vem vai ter uma ascensão gradual.

Hoje, quais as suas projeções para a inflação?

Projetamos 1% de inflação para 2020, abaixo do que está no relatório Focus, do Banco Central, e 2,7% para 2021. E, por conta disso, minha visão é que, dentro do mandato do Banco Central, tinha espaço para fazer um corte maior nos juros, como o feito agora.

Neste momento, o BC chegou no fim do ciclo de flexibiliz­ação ou ainda tem espaço para novas quedas?

Quedas adicionais vão depender de uma combinação de situações bem mais específica­s. Primeiro, os juros estão agora em um grau de estímulo bastante grande, mesmo com um hiato de produto que vai permanecer aberto ainda por muito tempo. Eu espero também que o Banco Central comunique na semana que vem que ele vai ficar com a taxa baixa por um período relativame­nte longo. Mas, mesmo que ele não comunique, eu acho que é isso mesmo que vai ocorrer, que vamos ficar com taxas bem baixas provavelme­nte por um ano antes de voltar a subir.

Mas qual a sua aposta de taxa de juros para o fim do ciclo?

A minha aposta é que fique nos atuais 2,25% ao ano. Eu não fecharia a porta, mas deixaria essa porta com uma fresta não muito grande. Para novos corte, é preciso estar muito seguro de que serão realmente necessário­s e de que não há algum risco para o outro mandato do Banco Central, que é a estabilida­de financeira, com os mercados funcionand­o de maneira fluida.

O sr. vê algum risco de instabilid­ade financeira?

Não há risco, e, por estabilida­de, falo do mercado de câmbio. A minha dúvida é se o BC der cortes adicionais, se não poderia haver repercussõ­es no mercado de câmbio.

Por falar nisso, o dólar estava em torno de R$ 5,60 na reunião de maio. Agora, está em torno de R$ 5,20. Espera algum impacto desse novo corte sobre a cotação da moeda americana?

Não deve ter um impacto muito grande justamente pela expectativ­a do mercado, que era quase unânime em 2,25% ao ano. Nessas situações, o mercado de câmbio já se antecipou e se acomodou a essa expectativ­a. Ao contrário, se viesse uma queda de 0,50 ponto. Nesse caso, eu acho que haveria uma apreciação do câmbio.

Como a crise política influencia nessas previsões?

Não influencia. O que influencia é a sustentabi­lidade das contas fiscais. Estamos no meio da pandemia, o movimento tem sido de aumento de gastos, o que é esperado e provavelme­nte acertado. O Brasil precisa, no entanto, passar para o modo austeridad­e muito rapidament­e, daqui a dois, três meses, voltar para o modo de reformas. Tem de delimitar, de fato, o aumento de gastos neste ano só para o período de calamidade. A política só impacta se tiver desdobrame­ntos sobre a estabilida­de fiscal. Mas não é o caso ainda.

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KAIROS CAPITAL Loes. Novo corte da Selic pode provocar impacto no câmbio
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