O Estado de S. Paulo

Guedes e Marinho selam trégua com plano mais enxuto

Ministros têm consenso sobre gastos públicos, depois das desavenças causadas pelo anúncio do Plano Pró-Brasil

- Idiana Tomazelli/ BRASÍLIA

Após desavenças em torno da proposta de aumento dos investimen­tos com recursos públicos na fase pós-pandemia, os ministros da Economia, Paulo Guedes, e do Desenvolvi­mento Regional, Rogério Marinho, selaram uma trégua e acertaram um plano mais enxuto de obras para ajudar na recuperaçã­o da economia sem inviabiliz­ar o ajuste fiscal.

Os dois discutiram o assunto na última quarta-feira, dia 10, na primeira conversa que tiveram desde 22 de abril, quando se desentende­ram após a apresentaç­ão do chamado Plano Pró-Brasil. Na ocasião, Marinho defendeu o aumento de gastos do governo para financiar investimen­tos, e Guedes o acusou de atrapalhar a atuação do Banco Central na crise e na política de juros diante da reação negativa do mercado, que temia afrouxamen­to do ajuste nas contas.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a conversa serviu para “abaixar a temperatur­a” entre os dois ministros e acalmar os ânimos. Interlocut­ores afirmam que Marinho redimensio­nou seu programa e agora “está alinhado” à orientação da equipe econômica. Ao mesmo tempo, Guedes estendeu a bandeira branca e deu sinais favoráveis ao plano do ministro do Desenvolvi­mento Regional.

Mais enxuta. As iniciativa­s do

Motivo da disputra •

Rogério Marinho defendeu o aumento de gastos do governo para financiar investimen­tos e Paulo Guedes o acusou de atrapalhar a atuação do BC na crise.

MDR devem envolver a aplicação de R$ 16 bilhões em três anos – bem menos que o plano inicial da pasta, que demandaria o dobro desse valor (R$ 33 bilhões) apenas em 2020. Os números ainda podem sofrer ajustes, mas o importante, segundo uma fonte, é o acerto para que a parcela do plano bancada com recursos públicos seja mais enxuta.

A previsão de recursos deve contemplar o novo programa habitacion­al que substituir­á o Minha Casa, Minha Vida. Como antecipou o Estadão/Broadcast, o chamado “Casa Verde Amarela” deve focar num amplo esforço de regulariza­ção e titulariza­ção fundiária. A ideia de Marinho é mapear casas que já existem em áreas que sejam regularizá­veis para conceder o título da propriedad­e e do terreno, juntamente com uma verba para reformas e melhorias que sejam necessária­s. A pasta está fechando os últimos detalhes para o anúncio.

O anúncio do Plano Pró-Brasil

em abril, feito pelas alas militar e política do governo sem a presença da equipe econômica, repercutiu mal no mercado financeiro à época porque soou como um abandono do compromiss­o com o ajuste das contas públicas. A área econômica viu a iniciativa como uma “bomba fiscal” e chegou a apelidar o programa de “Dilma 3” por prever a ampliação dos gastos para a retomada econômica por meio de obras em infraestru­tura.

Guedes teceu críticas públicas a esse modelo e, sem mencionar nomes, chegou a comparar o desejo de colegas de ampliar investimen­tos públicos a uma tentativa de “bater a carteira” do governo em meio à crise provocada pela pandemia do novo coronavíru­s.

Centrão. Na equipe econômica, a avaliação é de que Marinho tentou atuar como um “pé de cabra” do Centrão, bloco de partidos que agora dá sustentaçã­o política ao governo Jair Bolsonaro e já manifestou desejo por um governo mais “gastador”, mas a estratégia deu errado.

O próprio ministro Paulo Guedes tem intensific­ado a interlocuç­ão com lideranças do Centrão e teve, na semana passada, uma reunião com o deputado Arthur Lira (PP-AL) e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), dois caciques do PP, uma das principais legendas do bloco. O encontro foi uma “conversa política” para tentar “aproximar” os políticos da visão da área econômica.

Nessas conversas, segundo interlocut­ores do ministro, os líderes têm demonstrad­o posições “moderadas”. A avaliação na equipe econômica é de que os parlamenta­res estão consciente­s de que não é o momento de pôr lenha na fogueira dos gastos, e há a expectativ­a de que o bloco seja um importante pilar de sustentaçã­o na articulaçã­o pelas reformas no período pós-pandemia.

 ?? PABLO VALADARES/CÂMARA DOS DEPUTADOS-4/6/2019 ?? Bandeira branca. Marinho e Guedes fizeram acordo de paz
PABLO VALADARES/CÂMARA DOS DEPUTADOS-4/6/2019 Bandeira branca. Marinho e Guedes fizeram acordo de paz

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