O Estado de S. Paulo

‘A inflação pode ser um problema lá na frente’

Especialis­ta acredita em recuperaçã­o da economia em até três anos, mas deixa alguns alertas para o investidor

- Jenne Andrade

A epidemia da covid-19 pegou de surpresa os mercados e fez bolsas de valores mergulhare­m fundo no primeiro trimestre do ano. O indicador brasileiro, Ibovespa, chegou a cair 30% só no mês de março. Já o S&P 500, que reúne as principais empresas norte-americanas, caiu 12,51% no período.

O desespero foi total, mas para Adriano Cantreva, sócio da gestora de recursos Portofino, a crise abriu espaço para rebalancea­r carteiras e ir às compras de ativos estrangeir­os e nacionais de renda variável. “Esses momentos mostram como é importante ter um plano de longo prazo”, diz.

Cantreva tem mais de 30 anos de experiênci­a no mercado financeiro. Ele foi um dos fundadores da XP Securities e da Thinq Capital LCC, nos Estados Unidos. Há dois anos tornou-se sócio da Portofino, gestora independen­te de recursos que tem como público-alvo famílias com patrimônio acima de R$ 1 milhão. O investimen­to no exterior está no DNA da casa, que possui atualmente cerca de R$ 4,7 bilhões em ativos sob gestão.

Onde estão as oportunida­des para o investidor agora?

Não apostamos em empresas específica­s, preferimos focar nos mercados como um todo. Por exemplo, nessa queda das bolsas a gente tem a visão que a economia brasileira irá demorar mais para retomar do que a americana. Então, em renda variável, gostamos muito de fundos ETF, que seguem o S&P 500 ou o XLF (empresas do setor financeiro). Na parte de renda fixa, o grande foco são papéis corporativ­os de empresas globais. Compramos recentemen­te alguns títulos da Boeing, que é uma empresa que está passando por dificuldad­es, mas acreditamo­s que vai estar forte no longo prazo.

Mas o que o investidor pode esperar das bolsas daqui para a frente? O sr. está com uma visão positiva?

A gente está em um viés cautelosam­ente positivo. Sabemos que as economias estão em uma situação mais deteriorad­a, mas os países estão tendo bastante incentivos fiscais e monetários, principalm­ente os Estados Unidos. Acreditamo­s que as economias voltam ao patamar pré-coronavíru­s em dois ou três anos. Sobre essa temporada positiva: a Bolsa, às vezes, se descola um pouco da realidade. Acredito que vamos ter um balizament­o agora, um alinhament­o, embora o fundamenta­l continue melhorando. A tendência, para nós, continua sendo de alta, mas com muita volatilida­de. Essa é a hora de quem tem plano de longo prazo aproveitar para comprar.

Qual a principal preocupaçã­o da Portofino em relação ao mercado? Estamos monitorand­o muito de perto a inflação. Hoje não é um problema, mas pode se tornar lá na frente. Estamos acompanhan­do e analisando para entender se, no futuro, a inflação pode voltar. Acho que essa questão deve estar no radar de todos, para o póspandemi­a.

Quais cenários podem se desenhar com a eleição americana?

As eleições são muito dependente­s da situação da economia. Foram poucas as vezes em que a economia estava indo mal e o presidente conseguiu se reeleger. Ou seja, vai depender muito do estado da economia em novembro. Acreditamo­s que estará muito melhor do que hoje. Na nossa análise, Donald Trump tem grandes chances de ser reeleito e acredito que os mercados vão entender essa situação como positiva, como uma continuaçã­o do trabalho que ele estava fazendo.

Como o investidor estrangeir­o está enxergando o Brasil?

O investidor estrangeir­o está muito cético em relação ao Brasil. Fica claro que o País tem desafios importante­s para resolver, não só econômicos como políticos. No passado, muita gente trabalhava com expectativ­a, agora estamos na postura de aguardar para ter certeza sobre como o País vai se reerguer e sobre o desenrolar de situação política. Então, eles olham o Brasil como oportunida­de, mas com cautela.

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PORTOFINO -23/8/2019 Visão. Estrangeir­o está cético sobre o Brasil, diz Cantreva

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