O Estado de S. Paulo

GÊNERO PODE SUMIR DE RG HOLANDÊS

Não há consenso mesmo entre transgêner­os

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Enquanto países debatem a questão incômoda de como refletir o gênero em documentos oficiais, a Holanda estuda uma solução radical: eliminar de vez a classifica­ção. A proposta de retirar a categoria das carteiras de identidade até 2025 veio em uma carta do governo enviada ao Parlamento este mês e é parte do plano para “limitar o registro sexual desnecessá­rio onde for possível”.

A medida foi saudada por defensores dos direitos LGBT, que dizem que acabar com a categoria facilitari­a a vida de pessoas transgêner­o, intersexo e não binárias, que não se identifica­m como homem ou mulher. No entanto, ainda há ressalvas.

“É uma coisa boa que o governo não esteja registrand­o tanto o que vai dentro de nossas roupas íntimas”, disse Brand Berghouwer, presidente do grupo ativista Rede de Transgêner­os da Holanda.

Berghouwer disse que não existir uma identifica­ção de gênero o teria poupado da apreensão que sentiu quando estava fazendo sua transição, mas ponderou que muitas pessoas trans estão “muito orgulhosas da nova letra em suas identidade­s e não querem perder isso”.

A Holanda é vista como um dos países mais progressis­tas quanto aos direitos LGBT, tendo legalizado o casamento homossexua­l em 2001.

Se for adiante com a medida, ela se tornará um dos poucos países sem identifica­ção de gênero nas carteiras de identidade, seguindo exemplos de Alemanha, Itália e Sérvia, cujos documentos nunca a exibiram.

A denominaçã­o do sexo nos passaporte­s só foi introduzid­a em 1974, quando a Organizaçã­o Internacio­nal de Aviação Civil disse que o aumento de “roupas e penteados unissex” significav­a que as fotografia­s se tornaram uma maneira menos confiável de determinar o sexo de um viajante. Desde então, países como Holanda, Alemanha, Paquistão e Nepal introduzir­am opções de terceiro gênero para documentos de identidade, incluindo um “X” para passaporte­s.

Cerca de dez pessoas na Holanda agora têm um “X” em suas certidões de nascimento e passaporte­s, depois de recorrer à Justiça, af ir mou Bente Keulen, membro de um grupo de defesa dos direitos LGBT. O governo holandês aguarda mais processos judiciais antes de introduzir legislação, de acordo com acartado prime iro-ministro, Mark Rutte, enviada ao Parlamento.

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EVA PLEVIER/REUTERS

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