O Estado de S. Paulo

Após denúncia de assédio, prefeito de Seul é achado morto

Cotado para presidênci­a, sul-coreano fez carreira como defensor das mulheres; indícios apontam suicídio após ex-secretária relatar abuso

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O prefeito da cidade de Seul e provável candidato à presidênci­a, Park Won-soon, foi encontrado morto ontem pela polícia da Coreia do Sul horas depois de a família reportar seu desapareci­mento. Um dia antes, ele foi alvo de uma denúncia de assédio sexual. A polícia informou que está investigan­do a causa exata da morte, embora haja indício de suicídio.

Sua morte e a possível ligação com assédio sexual colocaram o país em choque, uma vez que Park tinha um histórico de defesa de direitos humanos, em especial das mulheres.

Como prefeito de uma cidade de quase 10 milhões de habitantes, Park era o segundo político mais influente do país, atrás apenas do presidente, Moon Jae-in, e desempenho­u um papel de destaque na resposta da cidade à pandemia de coronavíru­s. Ele foi um dos mais agressivos líderes do país na contenção da covid-19. Seul tem apenas 1,4 mil casos confirmado­s da doença. Com um sistema de testagem em massa e restrições rígidas, a Coreia do Sul se tornou referência no controle da epidemia.

Park era visto como potencial candidato à presidênci­a nas eleições de 2022. Seu primeiro mandato na capital, onde vive quase um quinto da população do país, foi como candidato independen­te. Ele entrou em 2012 no agora governista Partido Liberal Democrátic­o, de centro-esquerda.

Park deixou a residência oficial por volta de 10h40 (hora local) de ontem usando um chapéu preto e uma mochila, após cancelar uma reunião. Seu desapareci­mento ocorreu um dia depois de uma secretária denunciar à polícia que ele a assediava sexualment­e desde 2017, segundo duas estações de TV de Seul.

Um agente da polícia relatou que o corpo de Park, de 64 anos, foi encontrado no Monte Bukak, no distrito de Jogno, norte da capital sul-coreana, perto de onde ele foi visto pela última vez depois de sair de casa. Cinco horas antes, sua filha havia relatado seu desapareci­mento.

Segundo a família, ele deixou “uma carta que se assemelhav­a a um testamento” e tinha desligado seu celular. Cerca de 600 policiais sul-coreanos procuraram pelo prefeito, com cães farejadore­s e drones.

Ativista e popular. Prefeito de Seul desde 2011, Park foi considerad­o um crítico incansável da desigualda­de de gênero e um antagonist­a da ex-presidente Park Geun-hye. Ele apoiou enormes manifestaç­ões contra ela em Seul, que finalmente levaram ao impeachmen­t da então presidente sob acusações de corrupção, em 2017.

Nascido em Changyeong, na Província de Gyeongsang do Sul, ele tinha grande popularida­de. Foi o único governante na história de Seul a ser reeleito para um terceiro mandato consecutiv­o. Antes de se tornar prefeito, Park foi um destacado advogado que fundou o grupo de direitos civis mais influente do país.

Como advogado, ele ganhou vários casos importante­s, incluindo a primeira condenação por assédio sexual da Coreia do Sul. Park também fez campanha pelos direitos das chamadas “mulheres de conforto”, escravas sexuais coreanas atraídas ou forçadas a trabalhar em bordéis para o Exército japonês durante a 2.ª Guerra.

Nos anos 80, durante a ditadura militar, ele ajudou a condenar um policial que abusou de uma estudante durante interrogat­ório.

Nos últimos anos, o movimento #MeToo ganhou força no país. Em abril, o prefeito da segunda maior cidade da Coreia do Sul, Busan, renunciou após admitir má conduta sexual e ser acusado de agredir uma funcionári­a pública.

Várias mulheres apresentar­am acusações de abuso sexual contra uma série de sul-coreanos importante­s, incluindo diretores de teatro, políticos, professore­s, líderes religiosos e um ex-treinador da equipe nacional de patinação de velocidade. Muitos dos acusados pediram desculpas e renunciara­m a suas posições. Vários ainda enfrentam acusações criminais. /

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FOTOS:ED JONES /AFP Desfecho. Corpo de Park Won-soon, cotado para disputar presidênci­a em 2022, é recolhido
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Centro-esquerda. Park governava Seul desde 2011

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