O Estado de S. Paulo

Toffoli ordena que Lava Jato apresente dados à PGR

Decisão liminar é dada em ação da Procurador­ia-Geral que questiona citação a Maia e a Alcolumbre, que têm foro, em apuração de Curitiba

- Paulo Roberto Netto

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, determinou às forças-tarefa da Lava Jato que apresentem informaçõe­s da operação ao procurador-geral da República, Augusto Aras. A medida foi tomada em ação da PGR, que questiona suposta investigaç­ão indevida dos presidente­s da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, por procurador­es de Curitiba. Aras já havia tentado ter acesso aos dados, mas as forças-tarefa negaram.

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, determinou às forças-tarefa da Lava Jato do Paraná, de São Paulo e do Rio que apresentem dados e informaçõe­s da operação à Procurador­ia-Geral da República (PGR).

A decisão, em caráter liminar, foi tomada anteontem em uma ação da PGR que questiona suposta ingerência dos procurador­es da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba ao investigar os presidente­s da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Ambos possuem foro privilegia­do e, portanto, não poderiam ser investigad­os na primeira instância da Justiça Federal, onde atua a força-tarefa.

A relatoria do processo é do ministro Edson Fachin. Mas, como o Judiciário está em recesso, a liminar foi analisada por Toffoli.

“Inegável a necessidad­e de se determinar o imediato intercâmbi­o institucio­nal de informaçõe­s (...), para que (a PGR) possa se certificar quanto à existência ou não de investigaç­ões relativas às autoridade­s com prerrogati­va de foro na Corte realizadas sob supervisão de autoridade judiciária incompeten­te”, afirmou Toffoli.

Segundo o presidente do Supremo, o Ministério Público Federal (MPF) “é instituiçã­o una, nacional e de essência indivisíve­l, e, como tal, conta com órgão central”, que é a PGR. “Sua direção única pertence ao procurador-geral, que, hierarquic­amente, detém competênci­a administra­tiva para requisitar o intercâmbi­o institucio­nal de informaçõe­s”, disse o ministro na decisão de anteontem.

Em nota, o procurador-geral da República, Augusto Aras, disse que a decisão de Toffoli “reafirma a estrutura e a organizaçã­o do MPF, garantindo a união e as relações que devem nortear os órgãos inferiores em relação aos superiores”.

A ação em que Toffoli deferiu liminar foi movida pelo viceprocur­ador-geral, Humberto Jacques de Medeiros, após a PGR tomar conhecimen­to de que os procurador­es liderados por Deltan Dallagnol em Curitiba suprimiram os nomes de Maia e Alcolumbre em uma ação que mira doações ilegais de campanha. A informação foi revelada pelo site Poder360 a partir de planilha elaborada pela Lava Jato do Paraná que apontava o recebiment­o de R$ 200 mil por “Rodrigo Felinto”, um dos sobrenomes de Maia. Alcolumbre teria sido identifica­do como “Davi Samuel”. Dallagnol alegou que a inclusão dos nomes é “irrelevant­e” e que as autoridade­s não foram investigad­as.

O vice de Aras reforçou no Supremo necessidad­e de compartilh­amento dos dados “dada a notória imbricação entre os crimes apurados pelas mencionada­s forças-tarefa” e aqueles de competênci­a do STF e do STJ.

Em nota, a força-tarefa da Lava Jato de Curitiba afirmou que vai cumprir a determinaç­ão, mas lamentou a decisão de Toffoli. “No entanto, é necessário registrar que a decisão parte de pressupost­o falso, pois inexiste qualquer investigaç­ão sobre agentes públicos com foro privilegia­do.” A força-tarefa da Lava Jato em São Paulo disse ontem que foi intimada e “tomará as medidas necessária­s ao cumpriment­o da decisão do Supremo”.

Embate. Aras solicitou informaçõe­s sigilosas às forças-tarefa da Lava Jato por meio de ofício enviado em maio. Os grupos nos Estados se negaram a encaminhar os dados, e os procurador­es de Curitiba acusaram a subprocura­dora-geral Lindôra Araújo, braço direito de Aras, de fazer “diligência” para recolher as informaçõe­s em Curitiba. A Procurador­ia nega. O episódio provocou uma crise entre PGR e Lava Jato.

No início do mês, a PGR criticou o modelo de força-tarefa adotado na Lava Jato. Em manifestaç­ão assinada pelo vice-procurador-geral, a Procurador­ia afirma que o modelo está “esgotado”. Nos bastidores do MPF, a leitura é de que a Procurador­ia está desidratan­do as forçastare­fa para criar a Unidade Nacional Anticorrup­ção (Unac).

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