O Estado de S. Paulo

Limpeza no Alvorada

Ofensiva contra ‘gabinete do ódio’ faz filho de Bolsonaro anunciar ‘vida nova’

- Jussara Soares Camila Turtelli / BRASÍLIA / MATEUS VARGAS, JULIA LINDNER, TÂNIA MONTEIRO e J.S.

Com Bolsonaro e vários servidores infectados pelo coronavíru­s, prédios federais vêm recebendo limpeza diária. Treze ministros que tiveram contato com o presidente testam negativo para a doença.

A ofensiva contra o “gabinete do ódio” obrigou a ala ideológica do governo a rever a estratégia de atuação para sobreviver e voltar a influencia­r nas decisões do Palácio do Planalto. Diante do cerco imposto por inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF) e, mais recentemen­te, pela punição do próprio Facebook, o presidente Jair Bolsonaro tem se distanciad­o dos bolsonaris­tas mais radicais em uma tentativa de “pacificar para governar”. O movimento, no entanto, desagrada ao filho mais próximo do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republican­os-RJ), que ontem expôs a contraried­ade no Twitter.

Carlos, o mais influente do clã Bolsonaro nas redes sociais, disse estar vivendo “um novo movimento pessoal”, sem especifica­r a que se referia. “Aos poucos vou me retirando do que sempre defendi. Creio que possa ter chegado o momento de um novo movimento pessoal. Estou cagando para esse lixo de fake news e demais narrativas. Precisamos viver e nos respeitar”, escreveu.

A publicação ocorreu um dia depois de o Facebook ter removido uma rede com 73 contas falsas ligadas ao presidente, a seus filhos e aliados. A investigaç­ão da plataforma indicou o assessor especial da Presidênci­a, Tercio Arnaud Tomaz, como um dos responsáve­is por movimentar perfis. Tercio é homem de confiança de Carlos, de quem foi assessor na Câmara de Vereadores no Rio e atuou na campanha eleitoral de Bolsonaro.

Ao lado de José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz, também assessores da Presidênci­a, Tercio integra o “gabinete do ódio”. A existência do núcleo que alimenta a militância digital bolsonaris­ta com um estilo beligerant­e nas redes sociais foi revelada pelo Estadão em 19 de setembro do ano passado.

O revés envolvendo Tercio foi o estopim para Carlos anunciar o seu afastament­o. A interlocut­ores, ele tem afirmado que está decidido a não concorrer à reeleição para vereador no Rio. E, ao mesmo tempo, estuda a possibilid­ade de morar no Texas, nos EUA, onde tem amigos. Carlos também não descarta a possibilid­ade de viver em Brasília para ficar mais perto do pai, embora as recentes divergênci­as sobre os rumos do governo o obriguem a se afastar do Planalto.

“A onda agora está para dizer que as páginas da família Bolsonaro, de assessores que ganham dinheiro público para isso promovem o ódio. (...) Me apontem um texto meu de ódio ou dessas pessoas que estão do meu lado. Apontem uma imagem minha de ódio, no meu Facebook, dos meus filhos. Não tem nada”, disse Bolsonaro, ontem, em sua primeira transmissã­o ao vivo após a ação do Facebook.

Em tom enigmático, Carlos avisou aos opositores que “surpresas virão”, em outra publicação no Twitter. “Ninguém é insubstitu­ível e jamais seria pedante de me colocar neste patamar! Todos queremos o melhor para o Brasil e que ele vença! Apenas uma escolha pessoal pois todos somos seres humanos! Seguimos! E surpresas virão! Não comemorem, escória”, disse ele.

Bolha. Assessor especial de Assuntos Internacio­nais da Presidênci­a, o olavista Filipe Martins, por sua vez, tem usado as redes para pedir união à base bolsonaris­ta. “Saiam da bolha em que nos metemos. Sejam persuasivo­s. Expliquem o que está acontecend­o, mostrem o que está em jogo e convençam mais pessoas a lutar ao nosso lado”, apelou Martins, em 28 de junho.

Em conversa com um parlamenta­r do Centrão, nesta semana, Bolsonaro indicou que seguirá na estratégia de evitar o confronto com outros Poderes. Na noite de ontem, uma edição extra do Diário Oficial da União trouxe a substituiç­ão dos vice-líderes do governo que apostavam no embate por deputados do Centrão. Saíram Carlos Gaguim (DEM-TO), Daniel Silveira (PSL-RJ), José Rocha (PL-BA) e Otoni de Paula (PSC-RJ). No lugar deles entraram Diego Garcia (Podemos-PR), Aloísio Mendes (PSC-MA) e Maurício Dziedricki (PTB-RS), além de Carla Zambelli (PSL-SP). Silveira afirmou que não pretende ficar quieto. “Mas tem momentos que é bom você submergir”, afirmou.

Desinfecçã­o. A Secretaria-Geral da Presidênci­a afirmou que intensific­ou a limpeza na sede do edifício desde o início da pandemia. Segundo a pasta, um processo de “desinfecçã­o” é feito diariament­e nas instalaçõe­s. Ontem, uma equipe também foi ao Alvorada fazer uma desinfecçã­o nas áreas comuns.

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

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