O Estado de S. Paulo

Latam Brasil pede recuperaçã­o judicial

Empresa afirma que demora em fechar financiame­nto com o BNDES pesou na decisão de recorrer à Justiça americana, que já recebeu idêntico pedido de outras afiliadas do grupo no exterior; aérea conversa com sindicatos sobre o corte de cerca de mil funcionári

- Luciana Dyniewicz COLABOROU MARIANA DURÃO. /

A Latam Brasil entrou ontem com pedido de recuperaçã­o judicial nos Estados Unidos, com base no chamado Chapter 11 – legislação que regula o tema no mercado americano. Entre os motivos apresentad­os pela empresa, que acumula dívidas de R$ 13 bilhões, estão a demora para fechar financiame­nto com o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) e a possibilid­ade de acesso a um empréstimo de US$ 2,4 bilhões que será concedido por acionistas da companhia e pela Oaktree Capital Management, americana que investe em empresas em dificuldad­es financeira­s.

Para tentar se reestrutur­ar financeira­mente, o grupo Latam e suas afiliadas no Chile, no Peru, na Colômbia, no Equador e nos Estados Unidos já haviam pedido a proteção contra credores em Nova York em 26 de maio, mas a unidade brasileira havia ficado de fora.

“Em maio, o Brasil não entrou porque achávamos que poderíamos receber o dinheiro (do BNDES) aqui. Já se passaram 40 dias e, nesse período, não melhorou muita coisa (no mercado) de forma importante. A venda está subindo em cima de uma base muito ruim. A crise se prolongou”, disse o presidente da empresa no País, Jerome Cadier.

Assim como companhias aéreas em todo o mundo, a Latam Brasil sofre com a paralisaçã­o do setor em decorrênci­a da pandemia da covid-19. Segundo o executivo, a empresa ainda espera que saia o pacote de socorro do BNDES – que deverá ser de R$ 2,4 bilhões para ser dividido entre todas as aéreas –, mas não estima mais um prazo.

A intenção é que o banco entre na modalidade DIP (debtorin-possession), no qual o credor tem prioridade para receber perante outros. Tanto acionistas do grupo (a Qatar Airways, a família brasileira Amaro e a família chilena Cueto) como a Oaktree fizeram seus empréstimo­s nesse modelo.

Os acionistas já aportaram US$ 900 milhões, valor que deverá ser ampliado para US$ 1,15 bilhão caso a Justiça permita. A Oaktree deverá colocar mais

US$ 1,3 bilhão, segundo anúncio feito ontem pela Latam.

Para ter acesso a esse capital, porém, a Latam Brasil tem de fazer parte do processo de recuperaçã­o que corre nos EUA. “A gente precisa de acesso a financiame­nto. Até agora, não veio pelo BNDES, mas vai vir pelo DIP. Como a Latam está em fase avançada nesse DIP, a gente prefere garantir que esse dinheiro possa ser usado no Brasil”, acrescento­u Cadier.

A Latam Brasil é responsáve­l por cerca de 12% da dívida total do grupo, de US$ 20,4 bilhões (R$ 94 bilhões), mas, segundo a

empresa, ainda não há informaçõe­s de quanto ela poderá receber do DIP.

Apesar de a unidade brasileira ter pedido para se incorporar ao processo de reestrutur­ação nos EUA, não há garantias na lei brasileira de que ele seja reconhecid­o localmente. “A gente imagina que nossos parceiros vão seguir as decisões do chapter 11 porque é do interesse deles que a empresa avance nesse processo e dê continuida­de ao negócio”, afirmou o executivo.

Para o advogado Felipe Bonsenso, especialis­ta em Direito aeronáutic­o, no entanto, a Latam está em um “terreno pantanoso”. “Credores, independen­temente de sua nacionalid­ade, poderão questionar os termos da recuperaçã­o judicial. Assegurar que as decisões da Corte americana sejam todas cumpridas no Brasil não é possível, principalm­ente pelo fato de o Brasil não ter aderido ao acordo internacio­nal sobre insolvênci­a.”

Em outro movimento, a emrpresa enviou uma carta aos arrendador­es de suas aeronaves pedindo que assinem um acordo para liberar a unidade brasileira de pagar os aluguéis de seus aviões e qualquer taxa de juros até 7 de setembro, sob pena de cancelar contratos e abandonar aeronaves.

Demissões. Enquanto negocia essa questão com os credores, a Latam Brasil também conversa com sindicatos sobre a situação dos trabalhado­res. A empresa deverá demitir cerca de mil profission­ais, além daqueles que já aceitaram participar do programa de demissão voluntária.

Antes da crise, a Latam tinha 43 mil funcionári­os, sendo 21 mil no Brasil. No Chile, na Colômbia, no Peru e no Equador, 1.850 já foram desligados. Para Cadier, no fim deste ano o mercado aéreo brasileiro será 40% menor do que era antes da pandemia, o que obrigará a companhia a readequar seu tamanho

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FELIPE RAU/ESTADAO Sem liquidez. Empresa acumula dívidas de R$ 13 bilhões

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