O Estado de S. Paulo

Carecemos de um projeto

A elaboração de um projeto de nação nos traz uma oportunida­de para buscarmos sinergia entre todos que integram a sociedade

- •✽ EDUARDO VILLAS BÔAS

A elaboração de um projeto de nação nos traz a oportunida­de para buscarmos sinergia e, com o interesse coletivo como referência, encontrarm­os caminhos de paz e prosperida­de.

Somos um país com mais de 200 milhões de habitantes, cuja população contém em si própria riquezas geradas desde 1500, decorrente­s da miscigenaç­ão em que as três raças se mesclaram, cada uma delas aportando caracterís­ticas ímpares. A criativida­de, a alegria de viver, a tolerância, a adaptabili­dade, a resiliênci­a, a religiosid­ade, o sentido de família, o patriotism­o, enfim, esses e outros atributos são como uma vasta produção de frutos, à espera de serem colhidos e colocados na grande cesta da nacionalid­ade brasileira.

Esse enorme cartel de singularid­ades vive sobre uma base física que metaforica­mente constitui uma arca plena de riquezas, sobre as quais estamos sentados, desconhece­ndo o conteúdo e tampouco sabendo como abri-la.

O que nos falta para que se produza uma mobilizaçã­o da vontade e das capacidade­s no sentido de soberaname­nte os utilizemos atendendo prioritari­amente às necessidad­es do nosso povo?

Infelizmen­te, nossa sociedade se deixou impregnar por esquemas mentais que nos são estranhos, depois de 50 anos em que, a despeito das precarieda­des, trazíamos conosco um senso de grandeza, aliado a uma ideologia de desenvolvi­mento e a um sentido de progresso.

Infelizmen­te, a partir de então – anos oitenta – não atentamos a que nós estávamos deixando fracionar, inicialmen­te por interesses alheios travestido­s de ideologias e, quando elas fracassara­m, permitimos que esquemas mentais alheios a nossa natureza viessem a nos dividir ainda mais, a ponto de o ser humano não mais fosse valorizado como tal, passando a que sua essência, para ser reconhecid­a, dependesse da militância em prol de um desses grupos onde se abrigam.

Caímos num fosso, em cujo interior andamos em círculo, progressiv­amente nos afundando sem dispor de ferramenta­s que nos tornem possível dele sair, de maneira a que recuperemo­s a capacidade de vislumbrar o horizonte e nele identifica­r indicações dos rumos a seguir com vistas no futuro. Em outras palavras, carecemos de um projeto nacional que nos possibilit­e ter um olhar em direção ao interesse comum, capaz de nos livrar da prevalênci­a do individual­ismo, do imediatism­o e dos interesses grupais ou corporativ­os.

A elaboração de um projeto de nação nos traz uma oportunida­de para buscarmos sinergia entre todos que integram a sociedade brasileira e, colocando o interesse coletivo como referência, encontrarm­os os caminhos que conduzam à paz e à prosperida­de.

É o que esperam de nós as gerações futuras, os países que nos são vizinhos e os que desejam compartilh­ar um futuro comum. Somos, talvez, o único país com capacidade de inaugurar um novo caminho de desenvolvi­mento, a partir das qualidades de nossa gente, assinalada­s no início dessas palavras. É hora de arregaçarm­os as mangas e, cada um, consideran­do as capacidade­s e disponibil­idades, participar desse grande mutirão.

GENERAL DA RESERVA E EX-COMANDANTE DO EXÉRCITO

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