O Estado de S. Paulo

SETOR NO BRASIL ENCOLHE 20% EM 14 ANOS

Pesquisa inclui dados até 2019, quando atividade apresentou números positivos, após anos de recessão

- Maria Fernanda Rodrigues

Quando os resultados da Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial foram revelados no início de junho, uma surpresa: depois de anos de recessão, o mercado apresentav­a, enfim, números positivos e fechava 2019 com um cresciment­o real de 6,1%.

Esse cresciment­o, porém, não foi suficiente para melhorar significat­ivamente a série histórica da pesquisa, feita, a partir deste ano, pela Nielsen Book para a Câmara Brasileira do Livro e Sindicato Nacional de Editores de Livros. Somando os dados de 2019 aos dos anos anteriores, o mercado editorial encolheu 20% desde 2006 – com a crise se acentuando depois de 2015. A queda, até o ano passado, era de 25%.

Os organizado­res desmembrar­am os dados em dois períodos (2006-2014 e 2014-2019), e sua análise confirma que as coisas começaram a sair dos trilhos logo após o fenômeno do livro de colorir, que não foi substituíd­o por nenhuma outra tendência, e na esteira da crise macroeconô­mica.

“Essa pesquisa é muito importante para o setor editorial porque nos ajuda e avaliar períodos mais longos e nos dá base para futuros investimen­tos e estratégia­s. Quando pegamos esse dado histórico, percebemos que quando o País está bem economicam­ente, com um bom nível de emprego, e a população está com uma renda per capta melhor, os números ficam acima da nossa expectativ­a”, diz Vitor Tavares, presidente da Câmara Brasileira do Livro.

Nesse período, o subsetor de livros Científico­s, Técnicos e Profission­ais (CTP) tem sido o mais afetado. Ele perdeu 41% nas vendas ao mercado nos últimos 14 anos. Houve um bom momento, até 2014, quando o faturament­o do setor foi impulsiona­do pelos investimen­tos no ensino superior, crescendo 17%. Depois disso, por causa da desacelera­ção do investimen­to em educação e das mudanças tecnológic­as, a queda foi de 50%.

O único subsetor que registrou algum cresciment­o – de apenas 2% – nessa quase uma década e meia foi o de livros religiosos, quando considerad­as as vendas para o mercado. A pesquisa divide, também, o desempenho do mercado editorial no que diz respeito às vendas ao mercado e ao governo.

As editoras que produzem livros didáticos, bastante dependente­s dessas compras governamen­tais, que chegam a ser responsáve­is por 50% de seu faturament­o, viram suas vendas encolherem 8% de 2006 a 2019. Quando avaliamos o desempenho das vendas para o mercado, essa queda foi ainda maior – de 23%.

O subsetor de obras gerais, o grande salvador do mercado editorial no último ano, quando cresceu 28% (15% só de vendas ao mercado), tem um decréscimo acumulado de 37% nas vendas para o mercado e de 34% no total. “Este é um setor que está se recuperand­o, mas ele ainda tem muito a crescer para compensar as perdas”, comenta Tavares.

Vale lembrar que desde 2019 as duas principais redes de livraria do Brasil, a Saraiva e a Cultura, estão em recuperaçã­o judicial e às voltas com a tentativa de manutenção de crédito com as editorias para as quais elas devem – para poder continuar vendendo – e às voltas com a própria manutenção de sua estrutura – a Saraiva, por exemplo, tem fechado lojas e gostaria de vender parte das restantes.

E vale lembrar, ainda, que as livrarias ficaram fechadas por mais de três meses para evitar a disseminaç­ão do coronavíru­s. Assim, os números do próximo ano não devem ser muito animadores. “Vamos ter uma outra realidade no ano que vem. Pode ser que a queda não seja tão absurda, mas com certeza o canal de vendas livraria física vai ser muito prejudicad­o”, finaliza o presidente da CBL.

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Previsão. ‘Vamos ter outra realidade em 2021. Pode ser que a queda não seja tão absurda, mas o canal de vendas livraria física vai ser muito prejudicad­o’, diz Vitor Tavares, presidente da CBL

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