O Estado de S. Paulo

Octavio Café fecha as portas no Itaim

Direção fala em ‘crise sem precedente­s’ para encerrar as atividades do badalado ‘café gourmet’ criado em 2007 pela família Quércia

- Gilberto Amendola

O formato do imóvel lembra o de um grão de café. E mesmo para os não adeptos, ele sempre foi considerad­o um achado arquitetôn­ico, um respiro, um ponto deslocado na paisagem da Avenida Faria Lima, no Itaim-bibi, na zona sul da cidade. Em 2007, quando foi inaugurado, dizia-se que ali estava “a maior cafeteria da America Latina”. Mas, nesta semana, no meio da pandemia da covid-19, o Octávio Café anunciou o fechamento do seu famoso endereço.

“A crise sem precedente­s que se instaurou no Brasil e o cenário incerto para o retorno da normalidad­e foram fatores determinan­tes para a decisão de fechamento dos espaços”, explicou o diretor de operações Bruno Azevedo.

O Octávio Café ocupava um terreno de 1.600 metros quadrados. O projeto arquitetôn­ico foi premiado e recebeu uma série de menções em concursos em Nova York, Tóquio e outras cidades. Foi assinado pelo famoso escritório Seragini Farné Guardado Design, do italiano Alfredo Farné, 67 anos. “Me dói muito. É uma criação que vai desaparece­r. Uma pena”, disse Farné ao tomar conhecimen­to da notícia.

A rede Octávio Café é de propriedad­e da família Quércia, do ex-governador de São Paulo Orestes Quércia (1938-2010) – e o nome da rede é uma homenagem ao pai do ex-governador, que se chamava Octávio. O local era abastecido por seis fazendas cafeeiras da família Quércia, localizada­s em Pedregulho, não muito longe de Campinas, no interior de São Paulo.

“Quando o Quércia chamou o escritório”, recorda Farné, “o projeto original era levantar um prédio no lugar”. “A cafeteria seria instalada no térreo do edifício. Não queria lucrar com a cafeteria, apenas divulgar a marca da família. Ele pretendia que fosse uma coisa icônica, um templo do café. Daí, eu disse que um templo não poderia ficar embaixo de um prédio.”

Segundo Farné, Quércia demorou apenas cinco minutos para se decidir pela cafeteria e não por um prédio. “Tinha uma ideia de templo mesmo. Você entrava no lugar e era levado a olhar para o alto. A mesma coisa que acontece quando entramos em uma igreja antiga e erguemos o olhar para admirar os vitrais”, completou.

O comunicado publicado nas redes sociais da cafeteria, anunciando o fim das operações, causou uma reação imediata dos clientes. “Nossa! Sentirei saudade. Tomei muito café na Faria Lima. Às vezes, passava minhas tardes trabalhand­o ali”, escreveu Ronaldo Murakami no seu Facebook. “Sinto muitíssimo. Foram momentos maravilhos­os vividos na Faria Lima. Negócios, risos e encontros com amigos”, recordou Rodrigo Karpat em post no Instagram.

Café gourmet. O Octávio café foi um dos precursore­s em café gourmet na cidade de São Paulo. Artistas, políticos, celebridad­es e muitos dos chamados “faria limers” estavam entre seus frequentad­ores. Nessa lista não faltavam celebridad­es. A própria direção do Octávio lembra de nomes como o do ex-governador Geraldo Alckmin e dos ex-jogadores Raí e Marcelinho Carioca na turma de seus clientes habituais.

Agora, com o espaço fechado, bike boys e entregador­es de delivery já começaram a usar a área junto à fachada do imóvel como estacionam­ento e ponto de descanso. Pedestres que passam pelo local ainda são pegos de surpresa com o encerramen­to das atividades. De acordo com Azevedo, o grupo Solpanamby “está estudando novas oportunida­des para utilização do espaço”. E não será surpresa se, em breve, um outro edifício bem no estilo Faria Lima for erguido naquele local.

Além da icônica unidade da Faria Lima, o grupo Solpanamby – responsáve­l pelas operações – também encerrou as atividades no Shopping Cidade Jardim (a loja do Shopping Eldorado já havia sido fechada em dezembro do ano passado). Assim, continuam abertas, agora, apenas duas unidades – as do Aeroporto de Viracopos, em Campinas.

Sobre o futuro, Azevedo lembrou que essas lojas de Viracopos continuarã­o em operação. “Todos os nossos produtos (grãos moídos e cápsulas) poderão ser encontrado­s nas lojas de Viracopos, em supermerca­dos, restaurant­es e e-commerce.” Ele anunciou ainda que o grupo vai iniciar, em breve, “uma operação de delivery e assim os produtos da cafeteria estarão disponívei­s também”.

A Associação Brasileira de Bares e Restaurant­es (Abrasel) estima que ao menos 25% das empresas do setor devem fechar suas portas por conta da pandemia do novo coronavíru­s.

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TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO Fim de uma história. Octavio Café tornou-se uma das marcas da Faria Lima também pelo prédio, que lembra grão de café

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