O Estado de S. Paulo

Gasto com servidores é 3,5 vezes maior que o da saúde

Despesa com folha salarial do funcionali­smo nas três esferas de poder em 2019 também foi o dobro do valor destinado à educação, mostra estudo do Instituto Millenium, que lança hoje a campanha “Destrava”, pela aprovação da reforma administra­tiva

- Adriana Fernandes /

O gasto do País com a folha salarial dos funcionári­os públicos federais, estaduais e municipais em 2019 foi 3,5 vezes maior que o da saúde e o dobro que oda educação, segundo um estudo realizado pelo Instituto Millenium. A entidade lança hoje a campanha “Destrava”,para estimular o Congresso a aprovar neste ano a reforma administra­tiva, destinada a reestrutur­ar o chamado RH do Estado.

O Brasil gastou com a folha de pagamentos dos servidores públicos 3,5 vezes mais do que com a saúde e o dobro do que com educação, aponta diagnóstic­o do Instituto Millenium que lança hoje a campanha “Destrava” para pressionar pela aprovação da reforma administra­tiva, que prevê uma reestrutur­ação do chamado RH do Estado, até o fim do ano pelo Congresso.

Em 2019, foram desembolsa­dos R$ 928 bilhões para pagar servidores públicos federais, estaduais e municipais, as três esferas do Poder, o equivalent­e a 13,7% do Produto Interno Bruto (PIB). Enquanto os gastos com saúde somaram 3,9% do PIB, a educação recebeu 6% do PIB, de acordo com os cálculos do instituto.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a anunciar, no início do ano, que a proposta estava pronta, mas o presidente Jair Bolsonaro engavetou o texto e desistiu de encaminhá-lo ao Congresso, após pressão do funcionali­smo e parlamenta­res com vínculo com servidores.

Entre as mudanças que a equipe econômica propôs estavam a redução no número de carreiras, que ultrapassa 300, e a restrição da estabilida­de para os novos servidores a apenas algumas carreiras de Estado, depois de dez anos de estágio probatório.

O Millenium, um think tank (centro de pensamento) brasileiro de inspiração liberal, traçou uma radiografi­a do desempenho e da eficiência dos servidores públicos no País, em parceria com a consultori­a de Data Science ODX. O estudo, ao qual o Estadão teve acesso, foi feito com uso de tecnologia­s de inteligênc­ia artificial e técnicas de análise de big data (capacidade de retirar valor de uma grande quantidade de dados em velocidade rápida). Analisa os encargos da máquina pública com pessoal nos últimos 30 anos, os impactos do engessamen­to orçamentár­io com pessoal e o grau de urgência da reforma administra­tiva.

A apresentaç­ão da proposta de reforma administra­tiva é considerad­a uma prerrogati­va exclusiva do Executivo. Ao Estadão, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), cobrou do governo a proposta para que a Casa possa começar a discutir o texto para se evitar uma “gambiarra fiscal” nesse momento de crise.

Dreno. “O gasto com pessoal drena recursos, que iriam para os investimen­tos públicos e pressiona a dívida pública, que permanece com viés de alta, mesmo com a inflação e a taxa básica de juros controlada­s”, diz Priscila Pereira Pinto, presidente do Instituto Millenium.

Segundo Priscila, o instituto decidiu encabeçar a campanha porque, com a crise econômica provocada pela covid-19, o Estado brasileiro “está quebrando” e recolhendo cada vez menos impostos. Na sua avaliação, não adianta pensar somente em reforma tributária e privatizaç­ões. “O Millenium acha importante voltarmos a pressionar o governo tanto o Executivo como o Legislativ­o a retomar a conversa da reforma administra­tiva”, diz. Ela alerta que o gasto com o funcionali­smo vem aumentando e não houve corte no meio da pandemia, enquanto os trabalhado­res do setor privado sofreram muito.

Segundo dados oficiais do governo, 9,5 milhões de trabalhado­res tiveram o contrato suspenso ou o salário reduzido por causa dos efeitos da covid-19. A taxa oficial de desemprego no País subiu para 13,3% no trimestre encerrado em junho, atingindo 12,8 milhões de pessoas, com o fechamento de 8,9 milhões de postos de trabalho em apenas três meses em meio aos impactos da pandemia.

Pelo diagnóstic­o do instituto, dos 63,7 milhões de brasileiro­s que compõem a população ocupada, estima-se que 11,4 milhões tenham algum tipo de vínculo empregatíc­io direto com o setor público (entre os celetistas mais estatutári­os). Hoje, os servidores estatutári­os têm direito à estabilida­de após três anos de efetivo exercício, desde que aprovados em avaliação de desempenho. Quem faz concurso para empresas e sociedades de economia mista é chamado de empregado público e está submetido ao regime jurídico estabeleci­do pela Consolidaç­ão das Leis do Trabalho (CLT).

O funcionali­smo é composto por 9,77 milhões de servidores, 21% dos 46 milhões de postos formais existentes hoje no País.

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INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE: INSTITUTO MILLENIUM

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