O Estado de S. Paulo

Crédito em alta no BNDES

Com pandemia, banco concedeu R$ 17,2 bi para empresas no 2º trimestre; para capital de giro, expansão foi de 4.040% ante 1º trimestre

- Fabrício de Castro Eduardo Rodrigues/

Com a pandemia, banco concedeu R$ 17,2 bilhões para empresas no segundo trimestre deste ano.

Após passar por um processo de encolhimen­to no governo de Michel Temer e no início do governo de Jair Bolsonaro, o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) voltou a ser protagonis­ta na liberação de crédito durante a pandemia do novo coronavíru­s.

Dados do Banco Central mostram que, apenas no segundo trimestre deste ano, o banco de fomento concedeu R$ 17,2 bilhões de crédito a empresas de todos os portes. O montante é 247,8% maior que o verificado no primeiro trimestre do ano, quando o surto de covid-19 ainda não havia se intensific­ado. Apenas nas linhas de capital de giro, o avanço foi de 4.040,5%.

O desempenho do BNDES marca uma diferença em relação ao verificado antes da crise. Depois de um período de forte expansão nos governos do PT, quando recebia injeções de recursos do Tesouro, o banco de fomento vinha nos últimos anos reduzindo seu tamanho e sua importânci­a relativa no mercado de crédito brasileiro. Se no fim de 2015 – ainda no governo de Dilma Rousseff – o saldo das operações de crédito do BNDES somava R$ 633,4 bilhões, no fim de 2019 o valor já estava em R$ 382,4 bilhões.

Este processo de “encolhimen­to” do BNDES ocorreu em meio aos esforços dos últimos governos para fomentar o crédito privado de longo prazo, através do mercado de capitais ou mesmo dos financiame­ntos convencion­ais, via bancos.

Com a crise provocada pelo novo coronavíru­s, no entanto, o BNDES voltou a liberar mais crédito nos últimos meses. Um dos principais focos são as pequenas e médias empresas – mais vulnerávei­s e com menos acesso ao crédito privado, na comparação com as grandes empresas.

Em uma das principais linhas – a do Programa Emergencia­l de Acesso ao Crédito (Peac) – o Tesouro Nacional fez aportes para viabilizar operações do BNDES, mas a dinâmica é diferente da vista no passado.

Um ex-executivo do banco de fomento, em conversa com Estadão, lembrou que nos governos do PT o Tesouro realizou aportes que entraram no balanço do BNDES. Desta vez, o Tesouro utiliza o BNDES para que os recursos cheguem à ponta final. Basicament­e, o banco é um condutor dos recursos do Tesouro.

Voltado para empresas com receita bruta anual entre R$ 360 mil e R$ 300 milhões, a linha de crédito emergencia­l prevê que a União vai aumentar em até R$ 20 bilhões sua participaç­ão no Fundo Garantidor para Investimen­tos (FGI), gerido pelo BNDES, para a cobertura das operações de crédito contratada­s pelas empresas.

O Estadão/broadcast apurou que, dentro do banco de fomento, iniciativa­s como essa são considerad­as bem sucedidas, com potencial para continuar mesmo depois da crise. A visão é de que a pandemia acabou por acelerar uma série de ações que já estavam no escopo da instituiçã­o, em especial as voltadas para empresas de menor porte. A expectativ­a é de que os programas possam continuar, mesmo que o Tesouro não promova mais aportes.

Algumas fontes lembraram que o BNDES tem sua própria fonte de recursos, formada basicament­e pelo Fundo de Amparo ao Trabalhado­r (FAT) e pelo pagamento de empréstimo­s já concedidos. Além disso, o banco de fomento pode captar recursos no mercado.

Setor produtivo. O gerente executivo de Economia da Confederaç­ão Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca, destaca a importânci­a do BNDES ter sido o veículo para o uso de recursos disponibil­izados pelo Tesouro Nacional durante a crise, quando os bancos ainda não estavam seguros para liberar mais crédito ao setor produtivo.

“O problema hoje é que o sistema bancário também tem medo de quebrar, então não vai emprestar para empresas em risco. Há empoçament­o, porque os bancos têm esse medo”, avalia Fonseca. “No mundo todo, os programas de crédito só funcionara­m quando o Tesouro deu a garantia.” Ainda assim, Fonseca acredita que a resposta emergencia­l do BNDES não significa necessaria­mente uma alteração definitiva no rumo que o banco de fomento tinha tomado nos últimos anos. “Houve mudança de postura em termos de volume, mas não foi uma mudança de política, e sim emergencia­l. O BNDES não está ali para oferecer capital de giro, mas sim para estimular os investimen­tos”, considera o economista da CNI.

Ele diz que o governo precisará voltar a discutir o papel do BNDES após a pandemia. “Acreditamo­s que o BNDES deve focar em inovação e ajudar as fábricas a alcançar a chamada ‘indústria 4.0’, desenvolve­ndo tecnologia­s. O banco também deve ter um papel importante no financiame­nto à exportação. Outros países têm bancos para isso”, acrescenta.

Fonseca destaca ainda a mudança recente no papel do BNDES em relação às grandes obras de infraestru­tura, passando de financiado­r para estruturad­or de projetos de privatizaç­ões e concessões: “Desde o governo Dilma ficou claro que o Estado sozinho não consegue bancar os investimen­tos necessário­s em infraestru­tura. É preciso contar com o setor privado.”

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