O Estado de S. Paulo

Líbano tem protestos violentos e renúncia de ministros

Cresce a pressão para que todos no gabinete do primeiro-ministro, Hassan Diab, deixem os cargos, mas ele resiste e pede aos seus aliados para que fiquem; protesto, que registrou uma nova tentativa de tomada do Parlamento, tem mais de 300 feridos

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Manifestan­tes tentam romper barreira erguida pela polícia perto do Parlamento libanês, em Beirute: dois ministros renunciara­m e cresce pressão para que todo o gabinete do premiê Hassan Diab peça demissão.

Pelo segundo dia seguido, Beirute foi sacudida por violentos protestos contra o governo, a quem os milhares de manifestan­tes acusam de negligênci­a no caso da explosão no porto da cidade, na terçafeira, que devastou metade da capital libanesa, matou 154 pessoas e feriu mais de 6 mil. Dois ministros renunciara­m ontem e houve uma nova tentativa de tomada do Parlamento, com confrontos entre os manifestan­tes e as forças de segurança do país.

Manal Abdel Samad, ministra da Informação, foi a primeira a deixar o cargo. Em seguida, Damianos Kattar, do Meio Ambiente e Desenvolvi­mento, também pediu demissão. Samad disse que a sua decisão era uma resposta “ao desejo público de mudança” e “em respeito aos mártires” do país. Ainda ontem, mais um deputado renunciou ao cargo. Michael Mouawad seria o sétimo a abandonar a cadeira desde o dia da explosão.

O principal líder da Igreja Cristã Maronita, o patriarca Bechara Boutros al-rai, defendeu, durante um sermão, que todo o gabinete deveria se demitir.

O primeiro-ministro, Hassan Diab, no entanto, resiste. Enquanto os atos cresciam em número de pessoas e violência, ele se encontrava com outros ministros para desencoraj­á-los a pedir demissão, informou a imprensa libanesa. No sábado, ele disse que iria antecipar as eleições parlamenta­res e que ficaria no governo por mais dois meses, tempo para que as forças políticas organizem o pleito.

Segundo uma pessoa que pediu anonimato e teve acesso às reuniões de Diab e seu gabinete, o primeiro-ministro disse que todos deveriam “assumir a responsabi­lidade” em meio à crise. “Não podemos deixar o país sem comando”, disse Diab, se

• Crise

Hassan Diab

Emannuel Macron

gundo um interlocut­or.

“Não vamos desistir”, afirmou Pascale Asmar, um manifestan­te de 33 anos na Praça dos Mártires, em Beirute. “Nós o chamamos de vaso, porque ele é só para se exibir, ele não faz nada.”

O governo de Diab, formado em janeiro após manifestaç­ões em massa que ocorriam desde outubro e derrubaram Saad Hariri ainda no ano passado, tinha a promessa de reunir uma equipe de tecnocrata­s, mas acabou sendo loteado por facções familiares, incluindo membros da milícia xiita Hezbollah.

O Líbano não é dominado por um governante forte, mas tem vários líderes e partidos que representa­m os grupos sectários do país e compartilh­am o poder. Os cargos são distribuíd­os por cotas entre 18 denominaçõ­es religiosas, e o Parlamento é meio cristão e meio muçulmano. O primeiro-ministro deve ser sempre um muçulmano sunita, o presidente é um cristão maronita e o presidente do Parlamento, um xiita.

Nos protestos de ontem, segundo o jornal libanês Daily Star, um grande grupo de manifestan­tes tentou invadir o prédio do Parlamento. Os manifestan­tes conseguira­m entrar nos escritório­s dos ministério­s da Habitação e do Transporte. No sábado, eles já haviam tomado o Ministério das Relações Exteriores.

A Cruz Vermelha Libanesa disse que pelo menos 65 pessoas foram transporta­das para hospitais e 185 tratadas no local. O Exército disse que 105 soldados ficaram feridos.

“Não podemos deixar o país sem comando”

Conferênci­a. Líderes internacio­nais se encontrara­m ontem em uma conferênci­a virtual para discutir a ajuda ao país. O presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião da reunião, indicou que o auxílio deveria ser destinado diretament­e para o povo libanês. Macron disse que eles deveriam “agir com rapidez e eficiência para que essa ajuda vá para onde é necessária”. “O futuro do Líbano está em jogo.”

Por ordem do presidente dos EUA, Donald Trump, John Barsa, diretor da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvi­mento Internacio­nal, irá a Beirute nesta semana.

O Fundo Monetário Internacio­nal afirmou que pode “redobrar esforços” para ajudar o Líbano, mas as instituiçõ­es do país precisam realizar reformas estruturai­s, uma demanda que é rejeitada pelo governo libanês.

PRIMEIRO-MINISTRO DO LÍBANO

“O futuro do Líbano está em jogo”

PRESIDENTE DA FRANÇA

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WAEL HAMZEH / EFE
 ?? WAEL HAMZEH/EFE ?? Conflito. Manifestan­tes atiram pedras contra a polícia e prédios públicos, no segundo dia de protestos em Beirute: governo se mantém a duras penas
WAEL HAMZEH/EFE Conflito. Manifestan­tes atiram pedras contra a polícia e prédios públicos, no segundo dia de protestos em Beirute: governo se mantém a duras penas

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