O Estado de S. Paulo

‘É MELHOR CORRER RISCO PARA AJUDAR’

Perda de amigo médico não desestimul­ou jovem

- / F. C.

Nem a morte de um amigo da mesma faixa etária por covid fez o advogado Lucas Bazoni Pagung, de 25 anos, recuar na decisão de se oferecer como voluntário em um eventual estudo de desafio humano para a vacina da covid. O jovem, morador de Linhares (ES), é um dos 9 mil brasileiro­s cadastrado­s na plataforma americana 1Daysooner, que defende a realização de testes em que participan­tes são infectados proposital­mente pelo vírus para testar mais rapidament­e a eficácia de vacinas em desenvolvi­mento pelo mundo.

Pagung perdeu um amigo de 28 anos que era médico. “Claro que a morte dele me preocupou, mas me fez ter ainda mais vontade de ajudar. Com o caso dele, pensei que qualquer um está sujeito a se infectar e ter um quadro grave. Então é melhor correr um risco de contaminaç­ão para ajudar outras pessoas do que pegar essa doença e morrer em vão”, comenta ele.

O advogado diz ter ponderado que, embora haja risco, ele é menor para pessoas de sua idade e pode ser ainda minimizado se os testes forem feitos com cuidado, com monitorame­nto constante dos participan­tes para identifica­ção de qualquer sinal de infecção ou piora.

O arquiteto Eduardo Pinto, de 39 anos, foi outro brasileiro que se inscreveu como voluntário. Mesmo sabendo que sua idade está acima da ideal para os estudos de desafio humano, ele se candidatou por ter boa saúde e querer ajudar. Após passar por entrevista­s com os idealizado­res do projeto, foi contratado pelos americanos para auxiliar nas conversas com voluntário­s brasileiro­s.

“Fazemos entrevista­s de esclarecim­ento com os voluntário­s para tirar dúvidas e explicar o que é um estudo de desafio humano. Como sabemos que a maioria da população brasileira não fala inglês (o formulário de inscrição é todo na língua estrangeir­a), é importante ter certeza de que eles tenham compreensã­o do risco”, destaca.

Eduardo Pinto é líder de um grupo de cinco voluntário­s que têm realizado essas conversas com os brasileiro­s. Em breve, o grupo lançará uma conta da 1Daysooner em português no Twitter.

Para o arquiteto, a gravidade da pandemia no País ajuda a explicar o alto número de brasileiro­s inscritos. “Sem lockdown, ficamos muito mais vulnerávei­s e vemos de perto a morte”, diz. “Muitas pessoas são obrigadas a se expor ao risco por causa de suas profissões. Acho eticamente mais aceitável a pessoa decidir voluntaria­mente se expor”, defende.

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EDUARDO PINTO Eduardo. ‘Mais aceitável é decidir voluntaria­mente se expor’
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LUCAS BAZONI PAGUNG Pagung. ‘Qualquer um está sujeito a se infectar’, diz ele

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