O Estado de S. Paulo

Professore­s estão apreensivo­s com volta

Profission­ais de particular­es se dizem mais prontos; federação estadual de docentes quer elaborar protocolo conjunto de retorno às aulas

- José Maria Tomazela

Com o anúncio da possibilid­ade de volta às aulas em outubro nas escolas paulistas, cresce a apreensão dos professore­s. Alguns profission­ais se sentem preparados, sobretudo os das particular­es. Nas públicas, há mais dúvidas e apreensão.

A professora Maura Maria Moraes de Oliveira, do Colégio Uirapuru, um dos mais tradiciona­is de Sorocaba, no interior paulista, por exemplo, disse que a escola fez mudanças, como a troca de bebedouros, instalação de dispensado­res de álcool, demarcação dos espaços internos e interior das salas, e enviou imagens em vídeo para os alunos conhecerem e irem se habituando à nova estrutura.

“Em paralelo e em conjunto, coordenaçã­o e professore­s, estamos organizand­o o novo formato híbrido, a escala futura dos alunos que terão aula presencial e os que terão em casa.”

Ela conta que a partir do 5.º ano, os alunos que estão em casa por conta do rodízio acompanhar­ão em tempo real as aulas presenciai­s. “Com os pequenos, abaixo dos dez anos, é mais difícil e eles continuarã­o com o modo remoto.” Segundo a docente, desde o primeiro semestre, os professore­s vêm participan­do de programas, com acompanham­ento de psicólogo para o fortalecim­ento emocional. “A partir de hoje, os professore­s que se sentirem à vontade já podem ir à escola, testar os equipament­os e até, se acharem mais fácil, trabalhar dali.”

Já o professor de Língua Portuguesa Carmelito de Jesus Paulo Junior, que leciona na Escola Estadual Renato Rocha Miranda, em Campina do Monte Alegre, disse que é preciso muita prudência para se falar em volta às aulas. “Nós, professore­s, estamos ansiosos para voltar. Sabemos que é complicado para o aluno assistir a todas as aulas virtuais. Mas não temos gente suficiente trabalhand­o na escola. Com as medidas que teremos de tomar, inclusive a troca de máscaras, a mão de obra será um complicado­r”, comenta.

“Quem irá cuidar da higienizaç­ão da escola? Quem irá tirar a temperatur­a dos alunos? Temos apenas duas funcionári­as terceiriza­das para a escola toda”, afirma o professor Márcio Ricardo César, da principal escola estadual de Pereiras, também interior paulista.

Queixas. Docentes da rede pública já protestara­m na capital e o Sindicato dos Professore­s do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) sugeriu novas manifestaç­ões. Já a Federação dos Professore­s do Estado de São Paulo entrou com pedido no Ministério Público do Trabalho (MPT) para convocação dos representa­ntes patronais da educação básica e ensino superior para elaborar um protocolo conjunto de retorno ao trabalho. “Nossa ideia é convocar também profission­ais da saúde, inclusive psicólogos, para que a gente faça a volta com um protocolo de acolhiment­o aos alunos e suas famílias”, disse o presidente Celso Napolitano.

Consultas realizadas pela federação mostraram que a maioria dos professore­s é contra o retorno em setembro e mesmo em outubro, como sugerem o

Perspectiv­a

Maura Maria Moraes governo e os donos de escolas. “Os educadores não têm segurança sobre a volta. Consultamo­s professore­s de todas as áreas e eles colocam os riscos de voltar sem a vacina.”

O presidente do Sindicato dos Estabeleci­mentos de Ensino do Estado de São Paulo, Benjamin Ribeiro da Silva, diz que a rede particular está pronta para a retomada, com todos os equipament­os sanitários instalados. E destaca a necessidad­e de os pais levarem os filhos para a escola para eles irem trabalhar.

O secretário executivo da Educação do Estado, Haroldo Rocha, disse que a decisão de preparar a volta às aulas presenciai­s em outubro foi submetida ao comitê estadual da covid-19, que reúne especialis­tas em saú

de. A retomada está condiciona­da a um maior controle da pandemia. “A abertura só acontecerá se, durante 28 dias, 80% da população estiver na fase amarela do plano de reabertura. A avaliação é quinzenal e todos os 17 DRS ( Departamen­tos Regionais de Saúde) precisam estar amarelos.” Atualmente, cinco regiões não estão nessa fase.

Rocha lembra que o ambiente escolar não é só de aprendizad­o, mas também de socializaç­ão das crianças e jovens, seja na escola pública ou privada. “Eles estão privados dessa convivênci­a e é importante que voltem a tê-la.” O gestor negou a falta de funcionári­os. Segundo ele, o Estado já adquiriu 10 mil termômetro­s digitais, álcool em gel, sabonetes e 12 milhões

de máscaras para as escolas paulistas. No fim do ano passado, a pasta repassou R$ 650 milhões para a compra de insumos.

Especialis­ta. Já a advogada Diana Serpe, especialis­ta em direito da educação e da saúde, considera normal que os professore­s possam estar um pouco assustados com a volta às aulas sem que a pandemia tenha acabado totalmente, mas ela considera que a retomada é importante para os profission­ais e, principalm­ente, para os alunos.

“Acho que a criança precisa voltar em algum momento e a escola é a realidade dela. Isso não pode demorar muito para acontecer, pois o que realmente assusta é a falta que essa realidade faz para todos eles.”

“Minha expectativ­a é muito boa. O caminho ainda é incerto, mas estamos confiando naquilo que a ciência nos traz e isso nos dá segurança.”

PROFESSORA

 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO ?? Porto Seguro. Uso de um sistema híbrido exigirá mais tanto de docentes quanto de alunos
WERTHER SANTANA/ESTADÃO Porto Seguro. Uso de um sistema híbrido exigirá mais tanto de docentes quanto de alunos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil