O Estado de S. Paulo

Bolsonaro liga mortes por covid a isolamento

- Daniel Weterman

Após o registro de 100 mil óbitos por covid, o presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que lamenta cada morte, “seja qual for a sua causa”, e apontou o isolamento social como possível causa de outros óbitos no

País. As declaraçõe­s foram dadas em publicação no Facebook. “Lamentamos cada morte, seja qual for a sua causa, como a dos três bravos policiais militares executados em São Paulo ( veja acima)”, afirmou.

O Brasil registrava até as 20 horas deste domingo 101.136 mortes causadas pelo novo coronavíru­s, de acordo com dados do consórcio de imprensa formado por Estadão, G1, O

Globo, Extra, Folha e UOL. O total de pessoas que têm ou já tiveram a doença no País chega a 3.035.582. Nos últimos sete dias, a média móvel de novos óbitos foi de 1.001 a cada 24 horas. O Brasil registrou ontem, 593 mortes e 22.213 novas infecções. No sábado, Bolsonaro havia evitado falar da marca dos 100 mil mortos e destacou o número de pacientes recuperado­s, que chegou neste domingo a 2.118.460, de acordo com boletim mais recente do Ministério da Saúde.

Para justificar o argumento contra o isolamento social, Bolsonaro compartilh­ou um artigo publicado no portal do jornal britânico Daily Mail. “Conclui-se que o lockdown matou 2 pessoas para cada 3 de covid no Reino Unido. No Brasil, mesmo ainda sem dados oficiais, os números não seriam muito diferentes”, escreveu.

O comentário de Bolsonaro, porém, vai na contramão de especialis­tas e autoridade­s sanitárias. Pesquisas recentes mostraram que o número de mortes seria maior se não houvesse isolamento social. Conforme pesquisa da Universida­de Federal Rural do Rio (UFRRJ), o isolamento social, mesmo abaixo dos níveis desejáveis pelas autoridade­s sanitárias, poupou 118 mil vidas e evitou que 9,8 milhões de pessoas fossem contaminad­as. Médicos e cientistas afirmam que, para conter o avanço da doença, é preciso que as ações tenham como base um tripé: identifica­ção e monitorame­nto precoce dos casos; etiqueta respiratór­ia e cuidados pessoais; e isolamento social.

Recursos federais. “Quanto à pandemia, não faltaram recursos, equipament­os e medicament­os para Estados e municípios. Não se tem notícias, ou seriam raras, de filas em hospitais por falta de leitos UTIS ou respirador­es”, também escreveu Bolsonaro ontem.

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