Direito de torcer
Otorcedor tem o direito de torcer para o seu time em qualquer situação. A paixão pelo futebol faz com que isso seja possível, independentemente das condições do que se vê em campo. Digo isso diretamente aos torcedores do Palmeiras e àqueles que acham que não deveria haver festa em razão do mau futebol apresentado pelo time no Campeonato Paulista. Diria o mesmo aos corintianos, se o time do Parque São Jorge tivesse vencido o Estadual 2020 na decisão do sábado contra seu rival.
A esperança, a agonia, a comemoração do gol, a aflição do empate e o batimento acelerado do coração na hora dos pênaltis, tudo isso faz parte e move o torcedor nesta paixão, muitas vezes sem limites e na maioria dos casos passada de pai para filho.
A solidão e o isolamento, aliados à secura do futebol durante a paralisação por causa da pandemia do coronavírus, deixaram o torcedor com mais saudade do seu time e do futebol. Daí a festa necessária na conquista de um título. Vale para o torcedor do Palmeiras, mas também vale para todos os outros torcedores dos times que já ergueram taça na retomada, como Flamengo e Bahia, por exemplo. E dos demais que ainda farão o mesmo nos dias que se seguirão neste mês em meio ao começo do Campeonato Brasileiro.
A alegria pede passagem no futebol. Não podemos tirar isso do torcedor. É justo, portanto, que todos eles festejem os Estaduais. É legítimo. É esperado. Não deixa de ser recompensa por acreditar. O torcedor sempre acredita.
Futebol é coisa séria em países como o Brasil, uma religião. E nesses tempos de poucas alegrias e muitas mortes (100 mil no País) por causa da covid19, ele parece imprescindível para preencher corações vazios, renovar esperanças, provocar novos desafios, nos empurrar para frente, mesmo que em pequenos lapsos de tempo, quando a realidade dura da vida fica para trás e a paixão fala mais alto. Isso explica as aglomerações nas imediações dos estádios, os fogos de artifícios ou o grito de ‘campeão’ da varanda e janela.
Para muitos, a felicidade também está no futebol, numa partida de 90 minutos e numa conquista de campeonato.
É preciso, no entanto, ter cuidado com essa doença que assola o mundo e mata brasileiros. Fica o puxão de orelha. Torcer é tão importante quanto jogar. Não se disputa uma competição apenas para ganhar. Se disputa para alegrar os seguidores da equipe. Ponto.
Mas torcer não significa aceitar o nível do futebol apresentado atualmente no Brasil. Palmeiras e Corinthians, os dois finalistas do Estadual, por exemplo, mostraram futebol pequeno perto da grandeza de suas histórias e peso de suas camisas. Foi assim durante os 180 minutos das duas partidas da decisão e ainda na cobrança de pênaltis no Allianz. Pouco se viu em campo do campeão Palmeiras, o que gera muitas dúvidas de sua torcida no Nacional que abre suas portas. Da mesma forma, os jogadores do Corinthians não honram a tradição de elencos passados. Não há jogadas. Não há dribles. Há pouquíssimos chutes a gol. Em compensação, há muitos toques para trás e passes na defesa. Há uma infinidade de erros e nenhuma vontade de correr em direção ao gol, como se viu em algumas tentativas de contra-ataques do Palmeiras.
Palmeiras e Corinthians não estão sozinhos nesse deserto. Os times oferecem migalhas para seus torcedores, que não deveriam aceitá-las. É preciso cobrar mais e mais.
Os treinadores brasileiros, que poderiam ajudar a melhorar esse nível como sempre fizeram, estão muito enciumados com o trabalho dos colegas estrangeiros. São responsáveis pela mediocridade de seus atletas porque não conseguem sair do óbvio em campo, como mostraram Luxemburgo e Tiago Nunes na decisão do Campeonato Paulista.
Festejar a conquista do seu time não quer dizer aceitar o futebol mostrado em campo