O Estado de S. Paulo

Na crise, empresas migram para galpões

Guarda-móveis viram ‘quartel-general’ de lojistas que viram e-commerce na pandemia

- Fernando Scheller

A pandemia de coronavíru­s obrigou muitos empreended­ores brasileiro­s a se virarem para encontrar formas de não fechar as portas em meio a uma crise sem precedente­s. Pequenos lojistas de shopping center e distribuid­ores de produtos de moda, por exemplo, encontrara­m uma forma mais barata e prática para economizar nesse momento difícil: trocaram os show rooms e as lojas tradiciona­is, que exigem contratos de longo prazo, pelos guarda-móveis. A economia de custo, em muitos casos, é de 90% – vital para negócios que viram seu faturament­o cair vertiginos­amente.

No Guarde Aqui, empresa do grupo Pátria, a quantidade de pessoas jurídicas buscando o serviço atingiu um pico nos últimos meses. “Isso aconteceu por dois motivos. Primeiro porque a demanda pelo e-commerce aumentou muito; e, segundo, porque o sistema do self storage é mais flexível. Você pode aumentar ou diminuir o tamanho do espaço, e do gasto, conforme as vendas”, resume Everton Silva, diretor de operações do Guarde Aqui.

Com 25 unidades em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal, o Guarde Aqui tem hoje 2,5 mil clientes corporativ­os. Eles representa­m 33% do movimento total, perfil diferente do visto nos Estados Unidos, onde as empresas são, em geral, 20% dos clientes. É por isso que a rede estruturou o Guarde Aqui Empresas, que permite que os donos dos boxes entrem e saiam conforme sua necessidad­e, usando uma senha, várias vezes ao dia.

Os pequenos e-commerces puxam a clientela corporativ­a dos guarda-móveis. Muitos fecharam as lojas físicas que mantinham antes da pandemia e agora tentam ganhar a vida na internet. A empreended­ora Maria Verônica da Silva Matias, de 46 anos, é dona da tabacaria Unity. Havia aberto uma loja física no segundo semestre de 2019, no Shopping SP Market, na zona sul de São Paulo. Lá, pagava R$ 8 mil de aluguel por mês. As vendas iam bem, garante a empreended­ora.

Tanto era assim que, apenas dois dias antes de a prefeitura de São Paulo determinar o fechamento dos shopping centers na cidade, ela havia se comprometi­do com um novo contrato de aluguel de dois anos. À medida que a ameaça de um polpudo prejuízo se avizinhava, e já com as portas fechadas, Maria Verônica teve de tomar uma decisão. Com a ajuda do marido, insistiu com a administra­dora do shopping e reverteu o acordo assinado – sem multa.

Assim que conseguiu desfazer o contrato, correu para tirar seus pertences do shopping. E não precisou ir muito longe: carregou os materiais de ponto de venda e o estoque para um box de 7 metros quadrados na unidade do Guarde Aqui que fica literalmen­te ao lado do Shopping

SP Market. A economia de aluguel superou os 90%. Ao pechinchar no guarda-móveis, conseguiu acertar uma locação de R$ 350 por mês. “Foi a minha sorte, porque hoje faturo só uns 10% do que eu ganhava.”

Mas nem tudo está sendo fácil nessa “virada”. Maria Verônica conta o que vem enfrentand­o no e-commerce por causa das restrições à propaganda a produtos relacionad­os ao tabagismo. “Não consigo anunciar no Instagram e no Facebook”, diz. Era uma dificuldad­e que ela não tinha nos tempos de shopping centers. Na loja física, o fluxo de clientela era determinad­o pela proximidad­e.

Distribuiç­ão. Ex-jogador de futsal, Cláudio Jesus Ribeiro, de 43 anos, é responsáve­l pela operação da marca de itens esportivos espanhola Joma no Brasil. A maior parte da administra­ção da empresa e da distribuiç­ão de produtos no Brasil é realizada a partir de um galpão de 200 metros quadrados localizado em outra unidade do Guarde Aqui, também na zona de sul de São Paulo. “Fui atleta durante muito tempo e depois fiz faculdade de marketing e migrei de setor”, conta Ribeiro.

A Joma está presente há seis anos no Brasil e atua com produtos para diversos tipos de esportes. Os itens da marca espanhola vendidos no Brasil são fabricados no Vietnã. Embora as roupas e calçados da Joma sejam distribuíd­os também em lojas físicas, o principal cliente da empresa é o e-commerce, em especial o Netshoes, que hoje pertence ao Magazine Luiza. Ribeiro diz que, para uma operação de baixo custo, o galpão é uma boa saída. “Concentro todo o meu estoque aqui.”

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FOTOS: TABA BENEDICTO / ESTADAO-17/7/2020 Nova fase. Maria Verônica levou todo o estoque da tabacaria para um guarda-móveis
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Opção. Cláudio Ribeiro: distribuiç­ão a partir de um galpão

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