‘Bolsa cara acende alerta de bolha na B3’
Para gestor, quem está comprado em 4 ou 5 ações à espera da riqueza corre grande risco de perder tudo
Depois da queda histórica de 30% em março, o Ibovespa entrou em uma trajetória forte de recuperação e voltou a romper a barreira dos 100 mil pontos nas últimas semanas. Com o bom momento do principal índice de ações da Bolsa brasileira, vieram também a realização de uma série de aberturas de capital (IPOS, na sigla em inglês). A recuperação acelerada, contudo, pode esconder uma “bolha”. Paulo Bilyk, CEO da Rio Bravo Investimentos, analisa este cenário e como o investidor pode se proteger.
• Como explicar o desempenho tão positivo da Bolsa?
Há uma dissonância entre o que o gestor profissional experiente sente em relação ao momento da Bolsa e o que os gestores menos experientes de fundos e as pessoas físicas que compram diretamente ações de plataformas digitais sentem. Aliás, esses fundos mais novos e mais agressivos são frequentemente distribuídos por essas plataformas digitais. Então, sou obrigado a achar que tem um pedaço dessa história que vem do incentivo informacional das plataformas digitais, no sentido de promover uma ideia de girar carteiras, comprar papéis e divulgar IPOS – nem todos da mesma qualidade e muitos realmente com um preço alto. Outro lado dessa equação é o juros. O Brasil viveu muito tempo debaixo de uma embocadura complicadíssima, de juros muito altos, que criou nos brasileiros um vício de alocar toda sua poupança em renda fixa. Com os cortes na Selic, e a renda fixa perdendo atratividade, houve essa corrida para a Bolsa por parte da pessoa física. Processo que foi facilitado e incentivado pelas plataformas digitais, nem sempre da forma mais responsável. Me aponta um grande gestor que tenha mais de 15 anos de história administrando dinheiro de terceiros – e que não seja um produto momentâneo das plataformas digitais – que esteja bullish (otimista), sem crítica e sem preocupação. Eu não conheço.
• As plataformas digitais estão excessivamente otimistas e, por consequência, ajudando a inflar os preços?
As plataformas vivem de corretar papéis, isto é, elas querem vender esses papéis. Isso é da natureza do business das plataformas e também dos bancos de investimentos. Contudo, as plataformas levaram isso a um nível ainda mais extremo ao falar praticamente só com a pessoa física. E com um tipo de comunicação em blogs, Twitter, que nós não tínhamos antes. Uma linguagem muito simples e superficial para quem estava acostumado com análise fundamentalista à moda antiga, e uma forma de se expressar muito propagandística.
• Está se formando uma bolha? A pergunta é: a Bolsa está cara? Tem muitos papéis na Bolsa que estão caríssimos. Todos esses IPOS que estão saindo agora estão caros. Se isso é o que chamam de bolha, pode ser que esteja se formando, sim.
• Quais riscos que o investidor está correndo nessa conjuntura? O risco para o investidor é perder dinheiro porque o que vai acontecer é o seguinte: o ano vai virar e, em algum momento, o mercado começará a refazer as contas. Se eu estiver errado e as empresas mostrarem um lucro muito grande, aí quem comprou e segurou os papéis sairá ganhando. Mas agora, alguém me diz de onde vai vir todo esse crescimento, se não temos investimento e consumo? De onde vai vir esse dinheiro tão grande ? Es t o u di s p o s t o a acreditar se alguém me explicar.
• Como o investidor pode se proteger caso a ‘bolha estoure’?
Vai se proteger bem quem tiver diversificado. O que eu temo muito são pessoas que são hiperalocadas em ações. Por exemplo, além de ações de empresas sólidas, de resultados estruturados recorrentes e que não estejam tão caras ( como Pão de Açúcar, Itaúsa e Alpargatas), o investidor também pode alocar recursos em fundos imobiliários de qualidade, fundos de crédito privado, fundos de liquidez, fundos multimercados e etc. É essa diversificação que pode salvar o investidor. Agora, quem está com a sua carteira toda comprada em quatro ou cinco ações que você espera dar riqueza em um ou dois anos, está correndo um risco muito grande de perder tudo.