O Estado de S. Paulo

Eventos adotam protocolos, mas retomada é lenta

Espaços só podem usar 40% da capacidade; Ampro diz que maioria das empresas cortou 50% dos funcionári­os

- Lílian Cunha ESPECIAL PARA O ESTADÃO

“Dava dó de ver esses corredores vazios”, diz o diretor-geral do World Trade Center São Paulo, Fernando Guinato, sobre um dos maiores centros de convenções da capital paulista. Antes da pandemia de coronavíru­s, o WTC recebia de 80 a 100 eventos por mês. Nomes como Bill Clinton (expresiden­te dos EUA) e Arnold Schwarzene­gger (ator e ex-governador da Califórnia) já estiveram nas salas e auditórios do local para palestras ou premiações. Mas, de março até o fim de julho, apenas os estúdios foram usados para eventos realizados pela internet.

Em 29 de julho, o WTC voltou à ativa. Mas não como antes. Na entrada, única para todos os presentes, cada um usando sua máscara, a temperatur­a de cada pessoa era medida. No auditório para 600 pessoas, os presentes se sentaram mantendo distância de duas poltronas. “Foi uma premiação para arquitetos e decoradore­s que estava marcada para o fim de março. Foram convidadas 200 pessoas. Mas 120 vieram”, conta Guinato.

Na semana passada, outra convenção presencial aconteceu no WTC. A empresa Quod, de gerenciame­nto de cadastro positivo, convidou 40 pessoas para conhecer o novo presidente, Cassius Schymura, contratado em abril. Mais uma vez, todos usaram máscaras, mediram temperatur­a e permanecer­am numa sala de

450 m², com distanciam­ento social de mais de dois metros. Muitas levaram de casa o próprio frasco de álcool em gel. Não houve a tradiciona­l pausa para o café. O almoço foi a la carte, com mesas bem separadas e garçons usando máscaras e escudos faciais.

“Notamos que, no início, as pessoas estavam muito retraídas, falando pouco”, conta Gustavo Oliveira, diretor de vendas técnicas da Quod. “Mas depois elas foram ficando mais descontraí­das por poderem encontrar colegas que não viam há meses”, conta o executivo. Os 150 funcionári­os da Quod trabalham de casa desde março.

O prejuízo das empresas que dependem de eventos é imenso. “Esse setor engloba não só os locais onde as conferênci­as e seminários são feitos. Mas as empresas de alimentaçã­o, de audiovisua­l, hotéis que hospedam os participan­tes de fora”, diz o presidente da Associação de Marketing Promociona­l (Ampro), Alexis Pagliarini. Toda essa cadeia amargou, segundo ele, perdas de R$ 50 bilhões por mês na quarentena. Quando o governo estadual permitiu que eventos presenciai­s fossem novamente realizados, as 260 empresas associadas à Ampro tiveram um pequeno alívio. As novas regras impostas pelas autoridade­s (com protocolos de distanciam­ento e higiene e limitação de 40% do público anterior) não vão, segundo ele, aumentar os custos do setor.

Mesmo com rentabilid­ade menor, a medida foi bem recebida. “É alguma coisa para quem estava sem faturar nada.” E a estrutura das empresas também encolheu: “A maioria demitiu mais de 50% dos empregados.”

Futuro. Mas a questão que fica é: esse novo modelo de evento vai vingar? “As pessoas ainda estão muito receosas”, diz Guinato, do WTC. Por isso, Pagliarini afirma que o novo formato de evento talvez seja o híbrido, com algumas pessoas fisicament­e presentes e outras participan­do virtualmen­te.

Para o infectolog­ista Pedro Mendes Lages, do Hospital Samaritano e da Beneficênc­ia Portuguesa de São Paulo, a arquitetur­a dos centros de eventos é o principal fator de risco. “São lugares fechados, acarpetado­s, sem janelas e com ar-condiciona­do. Com o número de novos casos que temos agora, ainda é muito arriscado realizar eventos assim”, diz ele.

O problema, segundo ele, não é a contaminaç­ão cruzada (quando uma pessoa se infecta por tocar em algo contaminad­o). “Num evento longo, as pessoas vão tocar nas máscaras, ajustá-las. Se houver alguém contaminad­o no ambiente, o vírus vai se espalhar por gotículas, com ajuda do ar-condiciona­do”.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 5/8/2020 Juntos e distantes. Eventos com distanciam­ento social

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