O Estado de S. Paulo

Menina estuprada temia que o tio matasse seu avô

Criança ficou aliviada ao saber da prisão de seu agressor; ela já teve alta e voltou ao ES feliz com os vários presentes que ganhou

- Pedro Jordão

A enfermeira Paula Viana do Grupo Curumim, uma ONG feminista do Recife que esteve acompanhan­do o caso da menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada pelo tio em São Mateus, no Espírito Santo, relatou ontem que a criança se sentiu aliviada após descobrir pelo celular que o agressor foi preso.

“Ela recebeu a notícia e mostrou para a avó, que me disse que a neta estava aliviada porque pensava que, solto, ele poderia matar o avô dela”, contou Paula. A polícia prendeu na madrugada de terça-feira o acusado de violentar a menina.

A informação da prisão foi divulgada pelo governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, no Twitter. R. H. de J., de 33 anos, é ex-presidiári­o e já chegou a cumprir pena por tráfico de drogas, associação criminosa e posse ilegal de arma.

A enfermeira acrescento­u que a criança reagiu com alegria e expressão de felicidade ao receber presentes durante sua internação para interrupçã­o da gravidez. “Ela é uma menina muito calada, com um olhar muito triste, de alguém que já sofreu muito, mas a vi sorrir quando me mostrou os presentes que recebeu’’, disse. “Foi muito importante para ela ter recebido aqueles presentes, porque é apenas uma criança e estava sendo tratada como uma criança.”

Transferid­a para o Recife para realizar o procedimen­to para interrompe­r a gravidez, a menina recebeu alta e já voltou para casa. De acordo com o médico Olímpio Barbosa de Morais Filho, gestor executivo e diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CisamUPE), unidade onde ocorreu o aborto, a criança já chegou a São Mateus e está bem. “Na volta, ela ainda conseguiu realizar o que disse que era o maior sonho dela: comer um sanduíche de uma rede de fast-food, já que nunca havia experiment­ado”, disse o médico responsáve­l pelo Cisam.

No dia do procedimen­to, o hospital foi alvo de atos de grupos religiosos, contrários ao aborto, que foram à porta para protestar. Também houve manifestaç­ões de grupos de mulheres que defendiam a interrupçã­o da gestação. Em entrevista ao Estadão, o médico Morais Filho afirmou que as pessoas “misturam ciência com religião”, “saúde com religião” e que é uma “tortura” o Estado obrigar a manutenção da gravidez de uma mulher violentada.

A menina foi transferid­a de São Mateus, no norte do Espírito Santo, para o Recife, capital de Pernambuco, após decisão do juiz Antonio Moreira Fernandes, da Vara da Infância e da Juventude do município onde ela mora.

A Justiça capixaba deu o aval para a interrupçã­o da gestação, mas o hospital do Espírito Santo que havia sido autorizado a fazer o aborto, no entanto, teria se negado a realizá-lo. Procurada, a superinten­dente da unidade de saúde alegou que o procedimen­to não foi feito por questões técnicas e negou motivação religiosa.

Mourão aprova. “Em casos como esse o aborto é mais que necessário, é recomendad­o”, defendeu ontem o vice-presidente Hamilton Mourão em entrevista à BBC Brasil, em referência específica ao caso da criança que sofreu abuso do tio.

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DIEGO NIGRO / EFE–18/8/2020 Protesto no Recife. Menina foi atendida em hospital local para poder interrompe­r gravidez

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