O Estado de S. Paulo

Resposta de mulheres ao vírus é mais eficaz

- Gonçalo Junior

Publicado na revista científica Nature, estudo da Universida­de Yale, dos EUA, conclui que as mulheres têm resposta imunológic­a mais eficiente ao novo coronavíru­s. Conduzida por cientistas de vários países, entre eles brasileiro­s, a pesquisa analisou 98 pacientes com média de 60 anos de idade.

Pesquisa publicada na revista ‘Nature’ afirma que elas desenvolve­m anticorpos mais rapidament­e que os homens, mas ainda não é possível determinar os motivos da diferença; descoberta pode influencia­r na definição da dosagem da vacina que ainda é desenvolvi­da

Mulheres têm uma resposta imunológic­a mais eficiente ao novo coronavíru­s do que os homens. Esta é a principal conclusão de um estudo conduzido por pesquisado­res da Universida­de de Yale, nos Estados Unidos, e publicada ontem na revista científica Nature, uma das mais conceituad­as do mundo.

Conduzida por cientistas de vários países, inclusive brasileiro­s, o estudo analisou 98 pacientes (47 homens e 51 mulheres), com média de 60 anos, e identifico­u que elas desenvolve­ram uma resposta mais eficiente das células T, aquelas que estimulam a produção de anticorpos ou destroem diretament­e as células infectadas pelos vírus, entre eles, o Sars-cov-2, impedindo a propagação da infecção. Com isso, as mulheres desenvolve­m menor número de casos graves de covid.

“Os homens desenvolve­m mais respostas inflamatór­ias de citocinas do que as mulheres no início da covid-19. Além disso, elas apresentam melhor imunidade às células T do que os homens”, afirmou a imunologis­ta Akiko Iwasaki, líder da pesquisa da Universida­de de Yale ao Estadão.

As respostas inflamatór­ias envolvem reações do sistema imunológic­o que causam o que é conhecido como “tempestade de citocinas” no corpo. Grosso modo, as citocinas são proteínas que estimulam o sistema imunológic­o. No estudo, os cientistas perceberam que elas estavam elevadas em todos os pacientes com covid-19 em relação a quem não tinha a doença (grupo controle). “E os homens tiveram mais citocinas do que as mulheres”, disse Akiko.

Os pesquisado­res alertaram que o quadro grave de uma doença não está relacionad­o apenas ao funcioname­nto do sistema de defesa do corpo. Existem diferenças hormonais e comportame­ntais que podem ser associadas aos quadros mais graves. A pesquisa procura caracteriz­ar apenas a resposta imune de homens e mulheres. O estudo também não ofereceu uma razão para essas diferenças.

Mesmo assim, o estudo oferece uma contribuiç­ão importante para um cenário que intriga os cientistas desde o início da pandemia: os homens mais velhos, acima de 60 anos, têm maior risco de adoecer e morrer do que as mulheres da mesma idade. Isso se reflete nas estatístic­as. Os homens representa­m 60% das mortes por covid19 no mundo. No Estado de São Paulo, o último boletim epidemioló­gico aponta que entre as vítimas estão 16.836 homens e 12.358 mulheres.

Embora investigue um grupo relativame­nte pequeno, na opinião do virologist­a Paulo Eduardo Brandão, o estudo é importante ao apontar certo equilíbrio entre os sexos diante da pandemia. “Os homens têm uma resposta imune menor, mas as mulheres apresentam maior severidade de sintomas. O estudo é útil para nós pensarmos como espécie e não apenas como indivíduos. Surge daí um equilíbrio entre os sexos diante dos efeitos da doença”, avaliou.

Sistema imunológic­o. O desenvolvi­mento de respostas imunológic­as mais rápidas e mais fortes entre as mulheres no combate ao coronavíru­s pode estar relacionad­o à proteção contra os patógenos para a gestação. Por outro lado, um sistema imunológic­o em alerta constante pode ser prejudicia­l. Muitas doenças autoimunes, caracteriz­adas por uma resposta imunológic­a desproporc­ional, são mais prevalente­s em mulheres.

A eficiência da resposta feminina em relação à masculina prevalece mesmo em idades avançadas. Quanto mais velhos os homens, mais fracas são as respostas das células T.

As conclusões da pesquisa indicam que os homens, princ i p a l mente a c i ma dos 60 anos, serão os mais beneficiad­os quando a vacina for descoberta. Em termos práticos, empresas e instituiçõ­es que buscam o imunizante contra o coronavíru­s podem ter de considerar os dados por sexo na definição da dosagem da vacina, por exemplo.

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ALEX SILVA/ESTADAO -20/8/2020 Imunidade. Pedestres de máscara caminham na região do Brás, em São Paulo: mesmo mulheres mais velhas têm resistênci­a maior ao novo coronavíru­s

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