O Estado de S. Paulo

Ministério aponta aumento de mortes em 13 Estados

Pará e Rio tiveram as maiores altas; especialis­ta afirma ser preciso frear os planos de flexibiliz­ar quarentena em regiões mais críticas

- Fabiana Cambricoli Sandy Oliveira

Metade dos Estados brasileiro­s teve alta no número de mortes por covid-19 na última semana em comparação com os sete dias anteriores, segundo dados apresentad­os ontem pelo Ministério da Saúde. São 13 unidades da federação nessa situação, quatro a mais do que no balanço da pasta na semana passada.

Estão no grupo Estados de todas as regiões: Acre, Amapá, Pará, Tocantins e Rio já mostravam tendência de alta no boletim anterior. Já Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, Minas, Espírito Santo e Rio Grande do Sul entraram na lista esta semana. As maiores altas porcentuai­s de óbitos foram no Pará (80%) e no Rio (62%), que já haviam passado por pico de casos e mortes há alguns meses, mas que enfrentam ameaça de novo cresciment­o em meio ao agravament­o da pandemia no interior e à flexibiliz­ação das quarentena­s. Doze Estados tiveram redução de óbitos confirmado­s e dois ficaram com números estáveis no período.

Diretor do Departamen­to de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissí­veis do ministério, Eduardo Macário afirmou que muitas das mortes registrada­s na última semana não são novas, mas estavam ainda sob investigaç­ão. Os dados da pasta mostram ainda que seis dos 13 Estados que tiveram alta no número de mortes também registrara­m aumento no total de casos.

A média móvel de novas mortes no País nos últimos 7 dias foi de 938 óbitos, segundo levantamen­to realizado pelo Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL.

No total, são 117.756 óbitos.

Para Marcelo Gomes, pesquisado­r em saúde pública da Fiocruz e coordenado­r do Infogripe (sistema que monitora internaçõe­s por Síndrome Respiratór­ia Aguda Grave – SRAG), a situação epidemioló­gica nacional, de estabilida­de no número de casos e óbitos por covid, não reflete a diversidad­e de cenários nas regiões, Estados e municípios, que estão passando por momentos distintos da pandemia. O monitorame­nto das internaçõe­s em cada localidade, diz ele, comprova isso.

“Temos Estados que já tiveram redução de casos e estão tendo novo aumento e aqueles que foram atingidos mais tarde e ainda estão com tendência de alta. Mas mesmo nos Estados que registram queda, os números ainda são elevados”, diz ele. “Quinze unidades da federação têm ao menos uma macrorregi­ão de saúde com tendência de cresciment­o de internaçõe­s por SRAG. Sinal de alerta. Nessas localidade­s, se há planos de maior flexibiliz­ação da quarentena, deveriam ser adiados.”

Taxa de contágio. Outro dado divulgado ontem indica que os números da pandemia no Brasil estão longe de uma queda sustentada. O País voltou a ter aumento do índice de contágio uma semana após apresentar, pela 1ª vez desde abril, queda na taxa de transmissã­o. As estimativa­s são da universida­de Imperial College de Londres.

O cálculo mostra que a taxa de contágio (Rt) do vírus no País subiu de 0,98, na semana passada, para 1, na semana atual. O Rt indica para quantas pessoas um paciente infectado consegue transmitir o coronavíru­s. Quando o indicador está abaixo de 1, há indícios de desacelera­ção do surto e, acima disso, ele tem tendência de alta.

Especialis­tas em epidemiolo­gia e matemática afirmam, porém, que uma variação pequena como a observada entre os dois relatórios não é capaz de, sozinha, indicar mudanças significat­ivas. Os próprios cientistas do Imperial College ressaltam que os resultados brasileiro­s devem ser “interpreta­dos com caute

• la”, pois a notificaçã­o de mortes e casos no País está mudando.

Uma das principais mudanças nas últimas semanas que podem ter levado a uma alta atípica das notificaçõ­es foi a decisão do ministério de aceitar registros de casos diagnostic­ados por critérios clínicos e de imagem (por histórico de sintomas e exames que mostrem comprometi­mento pulmonar do doente, como tomografia e ressonânci­a). Deixou de ser necessária a confirmaçã­o laboratori­al.

Professor do Instituto de Geociência­s da Unicamp, Renato Pedrosa explica que a variação de 0,98 para 1 está no chamado intervalo de confiança. “É como pesquisa eleitoral, que sempre tem uma margem de erro. O índice de uma semana para outra teria que estar fora dessa margem pra dizer se houve de fato mudança significat­iva.”

No relatório de ontem, o intervalo de confiança para o Rt de 1 ficou entre 0,93 e 1,12. Como o Rt da semana passada foi 0,98, as taxas das duas últimas semanas estão na mesma margem. “O cenário parece ser mais de estabilida­de, mas uma estabilida­de estacionad­a em número elevado de casos e mortes”, afirma Eliseu Waldman, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP.

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