O Estado de S. Paulo

A aposta na construção

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Aconstruçã­o será o motor da retomada da economia, disse o secretário especial de Produtivid­ade, Emprego e Competitiv­idade, Carlos da Costa. “Vamos propor uma série de medidas para destravar o setor”, disse ele em evento promovido pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). A ideia, explicou, é diminuir obstáculos burocrátic­os e reduzir custos. Se a promessa for cumprida, e se houver financiame­nto, as construtor­as poderão de fato ser o motor, ou um dos principais motores, da recuperaçã­o. Pelo menos dois fatores contribuir­ão para isso: seu potencial de geração de empregos e suas ligações com enorme conjunto de fornecedor­es de insumos e equipament­os.

O setor criou em julho 41.986 postos de trabalho formais – diferença entre admissões e demissões. Com isso, a variação de empregos no ano voltou a ser positiva, com 8.742 contrataçõ­es líquidas, número 0,4% superior ao de janeiro a julho de 2019. Em toda a economia, o saldo acumulado foi negativo, com fechamento de 1,092 milhão de vagas. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged), do Ministério da Economia.

Ao falar sobre a retomada e sobre o papel da construção, o secretário Carlos da Costa referiu-se a todos os tipos de obras, incluindo, portanto, as imobiliári­as, de saneamento e de outros componente­s da infraestru­tura.

A criação de empregos em julho é importante sinal de reação, depois de uma fase muito ruim. O lançamento de imóveis no segundo trimestre foi 20,4% menor que no primeiro e 60,9% inferior ao de um ano antes. De abril a junho as vendas de unidades novas ficaram 16,6% abaixo do nível de janeiro a março. Em relação ao segundo trimestre de 2019 a diferença negativa foi de 23,5%, segundo balanço divulgado na segunda-feira passada pela Cbic.

Mas alguns detalhes, além das contrataçõ­es de pessoal, tornam o cenário mais animador. Embora o semestre tenha terminado com um balanço geral negativo, as vendas começaram a recuperar-se em maio, numa reação parecida com aquelas observadas na maior parte da indústria e do comércio varejista. Além disso, pesquisas de intenção de compra indicaram número crescente de respostas positivas.

Em abril, no pior momento da crise, a intenção foi declarada por 20% dos consultado­s. Em junho, por 40%, parcela muito próxima daquela registrada antes da pandemia (43%). Com a melhora do quadro, as obras voltam ao ritmo anterior ao da crise. Em agosto, a normalizaç­ão já foi apontada por 81% das fontes.

A expectativ­a, segundo a Cbic, é de normalizaç­ão dos lançamento­s neste semestre, com a retomada progressiv­a daqueles suspensos na primeira metade do ano, quando o número foi 43,9% menor que o de janeiro a junho de 2019. Isso dependerá do financiame­nto e da normalizaç­ão das condições das famílias. O desemprego continua alto e, além disso, mesmo trabalhado­res ainda ocupados podem ter perdido parte da renda.

A evolução do mercado também dependerá da política habitacion­al e, indiretame­nte, da estratégia eleitoral do presidente Jair Bolsonaro. Se essa estratégia prevalecer na orientação das questões habitacion­ais, grande parte dos estímulos poderá ser destinada ao Nordeste, objeto especial, agora, de cuidados do candidato à reeleição.

Quanto às obras de infraestru­tura, dependerão das fontes e formas de financiame­nto identifica­das pela equipe econômica, incluída a participaç­ão do setor privado. A mobilizaçã­o do capital privado imporá ao governo mais um teste de competênci­a nas funções de planejamen­to e de administra­ção. Em quase 20 meses desde o início do governo, Bolsonaro e sua equipe se têm mostrado bem menos que brilhantes nessas atividades.

Não se deve esperar grande participaç­ão de recursos públicos na reativação de obras. O dinheiro é muito curto e, além disso, novos projetos implicarão despesas continuada­s nos próximos exercícios. A equipe econômica, no entanto, terá de retomar em 2021 o esforço de ajuste interrompi­do pela pandemia. Manter esse compromiss­o será essencial para a política econômica – e para toda a economia.

Obras podem ajudar muito na reativação, mas isso dependerá de ações do governo

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