O Estado de S. Paulo

Putin diz que pode intervir na Bielo-Rússia

Presidente diz que tem um contingent­e pronto para agir se ‘elementos extremista­s’ cruzarem alguns limites

- MOSCOU

O presidente Vladimir Putin disse ontem que a Rússia tem um contingent­e militar pronto para intervir na Bielo-Rússia em nome do presidente Alexander

Lukashenko “se for necessário”. Os primeiros comentário­s públicos de Putin sobre os protestos na Bielo-Rússia indicam o apoio de Moscou a Lukashenko quase três semanas após sua contestada reeleição.

“( Lukashenko) me pediu para formar uma certa reserva de policiais, e eu fiz isso”, disse Putin durante entrevista-surpresa na TV estatal. “Concordamo­s que (o contingent­e militar) não será usado até que a situação saia do controle e até que elementos extremista­s, sob o pretexto de slogans políticos, cruzem certas fronteiras – comecem a saquear, incendiar carros, casas e bancos, apreendam prédios administra­tivos e assim por diante.”

A Bielo-Rússia tem protestos diários desde o dia, quando Lukashenko, de 65 anos, afirmou que ganhou um sexto mandato com mais de 80% dos votos. O resultado foi denunciado como fraudado tanto pela oposição bielo-russa quanto pelos governos ocidentais.

Putin e Lukashenko tiveram cinco conversas telefônica­s desde que os protestos começaram. No início, Lukashenko disse que Moscou havia prometido ajuda

Reação

O Conselho de Coordenaçã­o, criado pela oposição bielo-russa para facilitar uma transição de poder, criticou Putin, dizendo que é “inadmissív­el” um país formar tropas para atuar na Bielo-Rússia. militar, mas o Kremlin esclareceu que isso se aplicaria apenas em caso de ameaça externa, conforme determinad­o em um acordo de 1999 que une a Bielo-Rússia e a Rússia política e militarmen­te. Embora Putin tenha alertado aos líderes ocidentais que ficassem fora dos assuntos internos da Bielo-Rússia, seus comentário­s de ontem deixaram em aberto a opção de a Rússia sair em auxílio de Lukashenko – uma medida que alarmaria o Ocidente e aprofundar­ia as tensões com Moscou.

“Na minha opinião, somos muito mais equilibrad­os e neutros em relação aos eventos na Bielo-Rússia do que muitos outros países da Europa e os EUA”, disse Putin. “Acreditamo­s que este é um assunto para o próprio povo bielo-russo. Mas certamente nos preocupamo­s com o que está acontecend­o.”

Os comentário­s foram feitos no momento em que a principal candidata da oposição, Svetlana Tikhanovsk­saya, recebe apoio simbólicod­os líderes da União Europeia, que disseram não reconhecer o resultado da eleição. Dois dias atrás, ela se dirigiu aos parlamenta­res europeus na Lituânia dizendo que a “revolução pacífica na Bielo-Rússia não é pró-Rússia nem anti-Rússia, nem é anti-Europa ou pró-Europa”.

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