Ligas dos EUA se dobram aos protestos
Revolta dos atletas após polícia balear um negro desarmado obriga organização a fazer concessões; NBA vai concluir disputa
O esporte mundial passa por uma nova comoção coletiva depois do ataque do último domingo ao homem negro Jacob Blake, atingido sete tiros pelas costas por um policial na cidade de Kenosha, no Estado americano de Wisconsin. A revolta por mais esse episódio de violência contra um negro nos Estados Unidos levou a protestos e boicotes de atletas e ao adiamento de uma série de partidas nas principais ligas esportivas americanas, em especial no basquete (NBA e WNBA), no futebol (MLS), no beisebol (MLB) e também ao cancelamento de treinos dos times de futebol americano (NFL).
O protesto foi encampado por atletas de outros esportes, como o tênis e a Fórmula 1.
Nos EUA, vários esportistas e equipes se posicionaram de maneira contundente contra o ataque a Jacob. Ele acontece três meses depois de o assassinato de George Floyd ter resultado também em mobilização semelhante por todo o mundo, incluindo o surgimento do movimento Black Lives Matter (Vidas negras importam).
Blake estava desarmado e na companhia dos filhos quando tentou apartar uma briga entre duas mulheres. Ele está hospitalizado e como consequência dos tiros perdeu o movimento das pernas, segundo familiares.
Na NBA, após o boicote liderado na quarta-feira pelos atletas do Milwaukee Bucks, time do Estado de Wisconsin, os jogadores decidiram ontem dar prosseguimento à competição. Mas a organização teve de adiar todas as partidas agendadas para ontem e tentará realizar os compromissos entre hoje e amanhã. A WNBA também adiou as partidas que estavam marcadas para quarta e ontem.
A mobilização nos Estados Unidos ganhou contornos políticos. O país terá eleições presidenciais em novembro e diante dessa expectativa, LeBron James, astro do Los Angeles
Lakers, escreveu nas redes sociais um manifesto para que os cidadãos americanos participem. O voto não é obrigatório nos Estados Unidos.
“Mudança não acontece apenas com palavras. Acontece com ação e precisa acontecer agora. Crianças e comunidades em todo o país, cabe aos Estados Unidos fazerem a diferença. Juntos. É por isso que o seu voto é mais do que um voto”, escreveu o jogador, crítico ferrenho de Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos, por sua vez, reagiu ontem dizendo que a NBA “se tornou uma organização política”.
O técnico do Los Angeles Clippers, Doc Rivers, se manifestou de forma dura. “Não sei por que nós amamos tanto esse país se ele não nos ama”, disse.
No basquete feminino, a arma foi a criatividade. No time do Washington Mystics, da WNBA, as jogadoras vestiram camisas com marcas nas costas que simulavam tiros e marcas de sangue. Na frente, as letras formavam o nome de Jacob Blake. As atletas também se ajoelharam, em sinal de protesto.
Pelo menos dez times da NFL adiaram ou desmarcaram treinamentos em sinal de luto pelo assassinato. No beisebol, foram dois jogos adiados; na liga de futebol, outras cinco partidas têm de ser remarcadas por causa de boicotes das equipes.
Nomes de peso. A mobilização nos Estados Unidos repercutiu na Fórmula 1. O piloto inglês Lewis Hamilton, negro, descartou boicotar o GP da Bélgica, domingo, mas deu apoio aos atletas americanos.
“Acho incrível o que está acontecendo nos Estados Unidos com tanta gente. Há muita gente promovendo mudanças, e é uma pena que não haja uma reação importante. Como esporte, devemos estar unidos.
Estou ao lado deles”, disse.
O piloto da Mercedes participou meses atrás de protestos antirracistas em Londres e disse que planeja uma nova ação para o fim de semana.
No tênis, a japonesa Naomi Osaka, após se recusar a jogar na quarta as semifinais do WTA de Cincinnati, que está sendo disputado em Nova York – todos os jogos de ontem também foram suspensos após acordo com a organização–, mudou de posição e irá à quadra hoje. Ela considera que o fato de os jogos terem sido adiados cumpre o objetivo de chamar atenção para os protestos antirracistas.
ASTRO DOS LOS ANGELES LAKERS ‘Mudança não acontece só com palavras. Acontece com ação e precisa acontecer agora. Crianças e comunidades em todo o país, cabe aos EUA fazerem a diferença. Juntos’