O Estado de S. Paulo

A surpresa do mercado de trabalho formal

-

A reação demonstrad­a pelo mercado de trabalho formal em julho é vigorosa e surpreende­nte. O aumento do número de empregos com carteira assinada é o mais expressivo para o mês de julho desde 2012 e esse resultado positivo surge apenas quatro meses depois de a pandemia ter começado a destruir empregos vorazmente. Em julho, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desemprega­dos (Caged) do Ministério da Economia, foram abertas liquidamen­te 131.010 vagas com carteira assinada (1.043.650 admissões e 912.640 demissões).

Resultados negativos foram registrado­s de março a junho. Em abril, mês em que a crise sanitária atingiu mais fortemente a economia brasileira, foram fechados liquidamen­te 927,6 mil postos de trabalho formais no País. Por isso, embora notável, o aumento de postos de trabalho em julho ainda é insuficien­te para reverter o resultado acumulado do ano. Nos sete primeiros meses de 2020, o mercado de trabalho formal fechou 1,043 milhão de vagas.

Há motivos para otimismo, embora pareça haver algum exagero na reação de membros do governo federal. “O resultado mostra que retomamos o ritmo de criação de empregos”, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes. O economista José Márcio Camargo, professor do Departamen­to de Economia da PUC-RJ, considera que é preciso avaliar se a retomada observada agora terá sustentabi­lidade. Ainda não é possível afirmar que a recuperaçã­o será acentuada, ou em “V”, como dizem os economista­s, ou se será mais amena.

Um dado interessan­te é o fato de que, das vagas criadas em julho, 104,4 mil foram ocupadas por jovens de até 24 anos. Com resultado bem inferior vem o número de vagas ocupadas por trabalhado­res de 25 a 29 anos (31,9 mil). Já entre trabalhado­res com mais de 50 anos, o resultado foi negativo (38 mil demissões).

Esses números parecem sugerir preocupaçã­o com a criação de oportunida­des de trabalho para jovens, muitos dos quais em busca do primeiro emprego. O que está ocorrendo, porém, deve ser outro fenômeno. Na pandemia, os trabalhado­res mais atingidos pelo desemprego foram os de baixa qualificaç­ão. Com a gradual retomada da atividade econômica, são essas ocupações que estão sendo preenchida­s, com trabalhado­res de pouca experiênci­a e remuneraçã­o menor.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil