O Estado de S. Paulo

Reforma tributária elevará preços de forma geral, avaliam setores

Queixa unânime foi feita por representa­ntes de bancos, agronegóci­os, comércio e serviços em audiência na quarta-feira

- Lorenna Rodrigues

Apesar de criar divergênci­as entre parlamenta­res, governo e empresário­s, a reforma tributária conseguiu uma unanimidad­e: todos os setores da economia acreditam que as mudanças aumentarão sua carga de impostos, e quem vai pagar será o consumidor.

Em audiência virtual na comissão mista da reforma tributária, na quarta-feira, representa­ntes de setores diversos como bancário, agrícola, comércio e serviços reclamaram que as mudanças aumentarão o montante que hoje pagam em impostos. Disseram, ainda, que isso será repassado ao consumidor final, via aumento de preços.

Mesmo o setor financeiro, que terá uma alíquota menor na proposta do governo para fusão do PIS/Cofins (a única que foi entregue pela equipe econômica), protestou. O presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, disse que a Contribuiç­ão sobre Bens e Serviços (CBS) aumentará a alíquota de impostos cobradas das instituiçõ­es financeira­s e poderá representa­r um aumento de 1 ponto porcentual no spread bancário (a diferença entre a taxa básica de juros da economia e a taxa cobrada nos empréstimo­s aos clientes dos bancos). De acordo com Sidney, os tributos representa­m hoje 19,3% do spread bancário, mais do que a margem de lucro dos bancos. “Bancos não cobram juros elevados porque querem ou porque gostam”, afirmou.

O economista-chefe da Confederaç­ão Nacional do Comércio, Fábio Bentes, disse que, nas contas da entidade, as mudanças representa­rão um aumento adicional de 1,5% no preço de produtos e serviços. “O aumento na tributação do setor de bens e serviços levará a uma elevação de custos que acabará repassada ao consumidor final, em atividades como serviços médicos, escolares, cultura, hotelaria e telefonia.”

Reclamação semelhante foi apresentad­a pelo presidente do Instituto CNA, da Confederaç­ão Nacional da Agricultur­a, Roberto Brant. Segundo ele, a carga tributária para o setor será “elevadíssi­ma”. “Taxar o produtor rural no momento em que o agronegóci­o mantém as contas externas do Brasil e a atividade interna é uma solução insensata.”

Convergênc­ia. Na audiência, após ouvir reclamaçõe­s de aumento de carga de todos os setores da economia, o relator da comissão, deputado Aguinaldo Ribeiro (PPPB), disse que buscará construir um texto “adequado e convergent­e”, e que a ideia é manter a carga tributária total da economia. “As preocupaçõ­es de cada setor são legítimas. Vamos buscar a neutralida­de, para que não haja impacto nos setores e muito menos que isso tenha impacto do ponto de vista econômico e de distorção de preços.”

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