Paulistana e única
“Comecei a tomar cerveja artesanal em 2008 e, circulando com meus amigos nos pubs, vinha a questão: não víamos pessoas iguais a nós – em cor, camada social e região – bebendo e confraternizando. Apenas no serviço”, diz Leandro Sequelle. Antes de contar a história dele, faço um convite: embora as memórias de bares cheios estejam ficando embaçadas com tantos meses de quarentena, tente se lembrar da última vez que esteve em um e se havia, nas mesas, diversidade.
Sequelle transformou a falta de pessoas negras e periféricas nos bares que frequentava em combustível para dar origem a uma cervejaria paulistana e única: a Graja Beer. Totalmente voltada para a região do Grajaú, no extremo sul de São Paulo.
A Graja Beer nasceu em 2016 com uma lager clara, carregada na identidade local, e com carga extra de malte, para equilibrar e não assustar paladares acostumados às cervejas comerciais. No rótulo, a avenida principal do bairro. “É bem na cara. Tem o nome do bairro, foto do bairro, sabor e preço agradáveis.” Emplacou e espalhou-se por 33 pontos de venda só na comunidade. “Não quisemos vender pra fora.”
Dois anos depois, a Graja Beer lançou uma session ipa, “para dar um passo a mais no paladar”. No rótulo, traz os 23 nomes dos bairros que compõem o distrito do Grajaú. No ano passado, foi a vez de abrir o pub. “A gente produz no pub, mas não para venda. A ideia é ensinar o processo de fabricação da cerveja para a comunidade.” E vai além: o pub mira a criação e o fortalecimento da cultura local. A cozinha é baseada nos ingredientes orgânicos produzidos na região do Grajaú e a programação é definida pela troca com coletivos locais. “Teve lançamento de marca de roupa de criadores da região, promovíamos o Sarau das Minas com um coletivo de mulheres do bairro, além de shows de artistas locais. O foco foi criar raízes dentro da comunidade e levar o nome para o mercado de uma outra forma”, diz Sequelle.
Deu certo. O circuito cervejeiro catou a movimentação, e começaram a surgir os convites para colaborativas. A primeira foi com a Goose Island (cervejaria de Chicago que foi comprada pela Ambev e tem um brewpub no Largo da Batata). Depois vieram parcerias com a Caravan (que fica em Pinheiros) e a Vórtex (na Granja Julieta). Com a pandemia, ficaram em pausa outras colabs, com a Cervejaria Nacional (também em Pinheiros), a Avós (na Vila Ipojuca), a Urbana (do Jabaquara), “e mais uma galera”, resume Sequelle.
A pandemia também afetou o funcionamento do pub, que segue fechado. “Não quisemos aderir à fase de reabertura por achar que nada está resolvido no quesito pandemia”, diz Sequelle, que calcula uma possível reabertura para outubro. “Até lá, seguimos com o delivery no fundão do Grajaú...” Os pedidos são por WhatsApp, com informações no @grajabeeroficial no Instagram.
“Quem for de fora pode provar as colaborativas com a Caravan, em Pinheiros, e a Vórtex, na Granja Julieta.” A Grajamaica é uma wit com a Caravan (R$ 30, 1 litro, caravanemcasa.com.br). A Da Sul, por sua vez, é uma milk-shake IPA com a Vórtex (R$ 54,50, 1 litro, vortexbrewhouse.com.br).
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É JORNALISTA E TOTALMENTE DEDICADA A CERVEJA, VINHO E COMIDA