O Estado de S. Paulo

Casa Branca diz preparar dossiê contra jornalista­s

Revelação foi feita pela porta-voz de Trump, Judd Deere, após matéria do ‘Washington Post’ sobre gastos em viagens presidenci­ais

- WASHINGTON

A Casa Branca disse ontem que prepara um dossiê sobre

jornalista­s do Washington

Post, após o jornal publicar uma reportagem sobre o lucro das empresas de Donald Trump em viagens oficiais do presidente. A revelação foi feita pela porta-voz, Judd Deree, quando os jornalista­s pediram um comentário sobre a denúncia.

De acordo com a matéria do

Washington Post, assinada por Josh Dawsey, Joshua Partlow e David Fahrenthol­d – vencedor de um prêmio Pulitzer –, as empresas de Trump cobraram faturas no valor de US$ 900 mil do governo americano. Os valores se referem a hospedagen­s, tarifas de hotel e até taxas para remoção de móveis dos quartos.

Durante os quase quatro anos de mandato, Trump já visitou suas próprias propriedad­es 270 vezes, de acordo com levantamen­to feito pelo Washington

Post – sem contar o encontro com doadores republican­os realizados ontem em seu hotel na capital americana.

Por meio dessas viagens, Trump canalizou para sua empresa uma receita provenient­e das agências federais e de grupos ligados a sua campanha. Pelo menos US$ 570 mil foram gastos em viagens presidenci­ais, de acordo com uma análise do

Post. No entanto, novos documentos oficiais, obtidos pelo jornal, fornecem mais detalhes sobre como a Organizaçã­o Trump cobrou do serviço secreto americano – uma espécie de cliente cativo da Casa Branca, obrigado a seguir Trump em todos os lugares.

Além dos quartos no resort de Mar-a-Lago, os documentos mostram que a Organizaçã­o Trump cobrou diárias dos agentes que protegiam o vice-presidente, Mike Pence, em Las Vegas. Em outra ocasião, a empresa de Trump recebeu US$ 1,3 mil dos agentes do serviço secreto pela simples remoção de móveis de um dos quartos, durante uma viagem oficial de Trump à Escócia.

Ontem, a porta-voz da Casa Branca, Judd Deere, acusou o

Washington Post de “interferir abertament­e nas relações comerciai s da Organizaçã o Trump” e exigiu “que a prática seja interrompi­da”. “Informamos que estamos elaborando um grande dossiê sobre as muitas histórias falsas de David Fahrenthol­d e de outros jornalista­s, pois são uma vergonha para o jornalismo e para o povo americano”, disse Deere.

Mais tarde, segundo a CNN, a porta-voz foi questionad­a sobre o dossiê, mas se recusou a comentar. Nem a secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, nem a diretora de comunicaçõ­es de Trump, Alyssa Farah, respondera­m aos pedidos de esclarecim­ento.

Denúncia. No Twitter, Fahrenthol­d escreveu que, se alguém souber “qualquer coisa a respeito de um dossiê que a Casa Branca compilou” sobre ele, que por favor avise ou lhe forneça uma cópia. Fahrenthol­d ganhou o Pulitzer em 2017 por uma matéria que questionav­a a generosida­de de Trump com as instituiçõ­es de caridade.

Em um dos casos relatados, Trump teria prometido doar US$ 6 milhões, incluindo US$ 1 milhão de sua fortuna pessoal, para grupos de veteranos de guerra durante uma campanha de arrecadaçã­o de fundos na TV, antes das prévias de Iowa, no início do ano passado – o dinheiro, porém, nunca foi doado.

Ameaça

“Informamos que estamos elaborando um grande dossiê sobre as muitas histórias falsas de David Fahrenthol­d e de outros jornalista­s, pois são uma vergonha para o jornalismo e para o povo americano”

Judd Deere

PORTA-VOZ DA CASA BRANCA

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ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

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