O Estado de S. Paulo

Acordo com UE ‘começa a fazer água’, diz Mourão

- Fábio Grellet / RIO

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) afirmou ontem que os países do Mercosul vivem “um momento particular­mente complicado” e que a negociação em torno de um acordo com a União Europeia “parece que começa a fazer água”. Em live promovida por entidades brasileira­s de comércio, Mourão enfatizou a crise da Argentina, com dificuldad­e em renegociar sua dívida externa com credores estrangeir­os, e colocou em dúvida a continuida­de do acordo.

“Na região do Mercosul estamos vivendo um momento particular­mente complicado, porque nosso grande parceiro comercial, a Argentina, vive uma crise continuada. Eu não vou nem entrar na questão da orientação política ou ideológica de cada um dos governos, porque acho que isso a gente tem de passar por cima. Mas a Argentina de alguns anos para cá vive uma crise da dívida. A pandemia num primeiro momento não teve impacto, mas agora começa a ter uma taxa de casos diária extremamen­te perigosa, 8 mil casos por dia, que equivalem a 40 mil casos no Brasil”, disse.

O general destacou ainda a demora na renovação de licenças de importação. A Argentina tem retardado a emissão das chamadas licenças não automática­s. As regras da Organizaçã­o Mundial de Comércio (OMC) estabelece­m um prazo máximo de 60 dias para que a autorizaçã­o seja processada. “Estamos com US$ 100 milhões em veículos parados aguardando a liberação da licença. O prazo deveria ser de dez dias e, no entanto, já estamos há 90 dias sem ter essas licenças renovadas”, afirmou. No evento, o vice-presidente defendeu a negociação direta com a UE: “Temos de ter uma equipe em condições de estar negociando permanente­mente não só com nossos parceiros do Mercosul, bem como com a União Europeia”.

O Mercosul e a União Europeia assinaram no ano passado o acordo de livre-comércio, mas para ser validado ainda depende de uma ratificaçã­o de todos os países envolvidos. Na semana passada, a chanceler alemã, Angela Merkel, disse ter “sérias dúvidas” sobre o futuro do acordo por conta do avanço dos queimadas e do desmatamen­to na Floresta Amazônica.

O vice-presidente, porém, negou que a Alemanha seja outro obstáculo às negociaçõe­s entre a UE e o Mercosul. “(Há) pouco tempo a imprensa falou que Merkel teria dito que o acordo estaria sub judice, mas na realidade ela foi cobrada pela ativista ambiental Greta Thunberg e resolveu não fazer nenhum comentário a respeito. Mas o que já se publica na imprensa no Brasil é algo totalmente diferente do que está acontecend­o na realidade”, criticou.

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