O Estado de S. Paulo

Governo prevê que País terá, pelo menos, 13 anos de déficit fiscal

Rombo nas contas públicas, que começou em 2014, poderá ir até 2026 ou 2027

- Idiana Tomazelli Eduardo Rodrigues / BRASÍLIA

Proposta orçamentár­ia apresentad­a pelo governo ao Congresso prevê déficits entre 2021 e 2023, num total de R$ 572,9 bilhões. Segundo o secretário do Tesouro, Bruno Funchal, com as projeções de mercado sobre juros e cresciment­o da economia, e caso o governo respeite o teto de gastos até 2026, o déficit poderá ir até 2026 ou 2027, numa sequência de pelo menos 13 anos de rombos sucessivos. O governo gasta mais do que arrecada desde 2014, ainda na gestão Dilma Rousseff. Na prática, pelas projeções da equipe econômica, o vencedor das eleições presidenci­ais de 2022 terá uma gestão marcada pela permanênci­a no desequilíb­rio das contas. Em 2020, o rombo ficará em torno de R$ 800 bilhões por causa de gastos emergencia­is de combate à pandemia. Promessa do governo Bolsonaro para a fase pós-covid, o programa social Renda Brasil poderá contar com R$ 34,9 bilhões previstos para o Bolsa Família em 2021. O valor é maior que os R$ 29,5 bilhões previstos inicialmen­te no Orçamento deste ano.

O governo espera um aumento no número de famílias em situação de pobreza no ano que vem e decidiu ampliar averba para o Bolsa Família na proposta de Orçamento para 2021. O programa social receberá R$ 34,9 bilhões para contemplar 15,2 milhões de famílias, um milhão a maisque o número atual de beneficiár­ios e dois milhões acima da quantidade de famílias que recebiam o Bolsa antes da pandemia.

No início deste ano, o Orçamento previa R$ 29,5 bilhões para 13,2 milhões de famílias. Após o decreto de calamidade pública devido à covid-19, a equipe econômica abriu um crédito de R$ 3 bilhões para incluir famílias que estavam na fila de espera pelo benefício, o que elevou o número de beneficiár­ios a 14,2 milhões. Depois, a maior parte começou a receber o auxílio emergencia­l.

Apesar do aumento no Bolsa, promessas do governo Jair Bolsonaro para a fase pós-pandemia, o programa social Renda Brasil e o chamado Plano PróBrasil de investimen­tos ficaram sem verbas específica­s na proposta do governo para o Orçamento de 2021, enviada ontem ao Congresso Nacional. A previsão de despesas, por sua vez, já está travada no limite máximo dado pelo teto de gastos, que impede avanço das despesas acima da inflação.

A equipe econômica justificou que não pode destinar recursos a programas que formalment­e ainda não existem. O secretário especial de Fazenda,Waldery Rodrigues, defendeu afocalizaç­ão dos gastos do governo e disse que a proposta final do Renda Brasil será apresentad­a oportuname­nte. “Há zero de espaço no teto de gastos em 2021”, disse.

Segundo o secretário de Orçamento Federal, George Soares, o governo espera um aumento no número de famílias em situação de pobreza no ano que vem, daí a ampliação da verba. “Esse aumento se dá basicament­e por uma questão socioeconô­mica, se prevê que você tenha um aumento das famílias que entram nos critérios de admissibil­idade do programa. A previsão do ano passado eram 13,2 milhões de famílias para 2020, para 2021 está previsto 15,2 milhões de famílias”, disse Soares.

Na semana passada, a equipe econômica teve seu plano inicial para o novo programa, que substituir­á o Bolsa Família e deve sera marca social do governo Bolsonaro, rejeitada pelo próprio presidente, que criticou a extinção de benefícios como o abono salarial para abrir espaço ao novo gasto.

Como mostrou o Estadão/broadcast, já há dentro da ala política e econômica do governo avaliações de que o futuro Renda Brasil acabará tendo alcance e valor semelhante­s ao atual Bolsa Família, programa social criado na gestão do expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva. Isso porque a equipe econômica defende a criação do programa dentro dos limites do teto de gastos com a revisão de outras ações considerad­as ineficient­es.

Superâncor­a. O temor de técnicos, porém, é que a pressão por algo mais abrangente acabe fortalecen­do o movimento por mudanças no teto de gastos, considerad­o uma superâncor­a para manter a credibilid­ade dos investidor­es na sustentabi­lidade fiscal do País. A equipe econômica tem adotado como mantra a manutenção do teto.

No caso do Pró-brasil, Soares explicou que o plano de investimen­tos não foi incluído no escopo do Orçamento. O governo prevê R$ 28,665 bilhões em investimen­tos no ano que vem em ações dos próprios ministério­s.

Defesa ganha. Do total do Orçamento, apenas R$ 92 bilhões (6,1% do total) são despesas discricion­árias, aquelas que o governo pode decidir onde colocar e que incluem custeio e investimen­tos. Na divisão, o Ministério da Defesa teve aumento de R$ 1,6 bilhão, de R$ 10,1 bilhões na proposta orçamentár­ia de 2020 para R$ 11,738 bilhões na de 2021. Enquanto isso, as áreas de Educação e Saúde tiveram quedas de R$ 1,882 bilhão e R$ 2,258 bilhões, respectiva­mente no Orçamento.

A proposta orçamentár­ia da Educação passou de R$ 21,837 bilhões para R$ 19,955 bilhões, enquanto a da Saúde foi de R$ 18,606 bilhões, em 2020, para R$ 16,348 bilhões.

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