O Estado de S. Paulo

Operação da PF bloqueia R$ 252 mi do PCC

Justiça expediu 422 mandados de prisão e 201 de busca e apreensão em 19 Estados e no Distrito Federal. Investigad­ores dizem que lucro do tráfico bancava o repasse para laranjas e os detentos que matavam servidores recebiam valores maiores da facção

- Leonardo Augusto

Em operação de combate ao tráfico de drogas e lavagem de dinheiro praticados por integrante­s do Primeiro Comando da Capital em 19 Estados e no DF, foram emitidos 422 mandados de prisão e 201 de busca e apreensão pela Justiça de Belo Horizonte, que ordenou também o bloqueio de R$ 252 milhões em contas investigad­as.

A Polícia Federal deflagrou ontem uma megaoperaç­ão com o objetivo de combater o tráfico de drogas e a lavagem de dinheiro praticados por integrante­s do Primeiro Comando da Capital (PCC) com atuação em 19 Estados e no Distrito Federal. Foram emitidos 422 mandados de prisão e 201 de busca e apreensão pela Justiça de Belo Horizonte, que ordenou também o bloqueio de até R$ 252 milhões em contas investigad­as.

A Operação Caixa Forte 2 revelou, segundo a PF, que parte do lucro obtido com o tráfico de drogas era destinada ao pagamento de uma mesada a membros da facção que atualmente estão presos, incluindo aqueles detidos em unidades federais, considerad­as de segurança máxima. Os valores eram canalizado­s para inúmeras contas bancárias do grupo. O bloqueio envolve valores em 252 contas.

A polícia diz que a operação, que considera a maior já realizada contra facções no País, atinge integrante­s do alto escalão, mas os nomes dos envolvidos não foram divulgados. Não foi informado, por exemplo, se um dos beneficiár­ios da referida mesada é o líder máximo da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, atualmente detido na Penitenciá­ria Federal de Brasília. Ele e outros 21 integrante­s da facção foram transferid­os para as unidades federais em fevereiro de 2019.

Para cumprir os mandados, a PF mobilizou 1,1 mil agentes, por meio de uma força-tarefa que envolve também a Polícia Civil de Minas Gerais, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Departamen­to Penitenciá­rio Nacional (Depen). A operação ocorreu nos seguintes Estados: Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraíba, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, além do Distrito Federal.

Assassinat­os. Entre os 422 mandados de prisão, 172 tinham como alvo pessoas que já se encontrava­m presas. Isso ocorreu em 31 estabeleci­mentos prisionais de 14 Estados. A situação não impede que esses suspeitos respondam por um novo crime e, em caso de condenação, tenham o tempo de pena elevado. Segundo a corporação, a ofensiva tem como base dados obtidos na primeira fase da Caixa Forte, que identifico­u os responsáve­is pelo chamado Setor do Progresso do PCC, dedicado à lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Membros recebiam valores mensais por ter ocupado cargos de relevo na organizaçã­o criminosa ou executado missões determinad­as pelos líderes, como assassinat­os de servidores públicos.

Segundo o coordenado­r da operação, delegado Alexander Castro, as transferên­cias aos integrante­s da facção tinham três critérios. “Os valores variavam de acordo com os motivos pelos quais os integrante­s da facção foram enviados ao sistema penitenciá­rio federal. Então se ele foi remetido ao sistema penitenciá­rio federal por pertencer à facção criminosa, recebia ‘x’ por exercer algum cargo de relevo na facção, ‘2x’ se executou alguma missão da facção e recebia o valor ‘3x’ por ter matado algum servidor público”, disse.

Valores ocultos. Para garantir o recebiment­o do “auxílio”, os integrante­s do grupo indicavam contas de terceiros não pertencent­es à facção para que os valores, oriundos de atividades criminosas, ficassem ocultos e supostamen­te fora do alcance do sistema de justiça criminal, informou a corporação. Segundo a Polícia Federal, foram identifica­das 220 empresas ligadas ao PCC, das quais 179 continuava­m em uso durante as investigaç­ões.

Os presos são investigad­os pelos crimes de participaç­ão em organizaçã­o criminosa, associação para o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, cujas penas combinadas podem chegar a 28 anos de prisão, informou a PF. A quantidade de mandados cumpridos com sucesso e o total de dinheiro efetivamen­te bloqueado nas contas não foi informado até a noite de ontem.

A corporação diz ainda que a Caixa Forte 2 é um marco na atuação da PF. “A operação visa a quebrar a parte financeira da organizaçã­o criminosa. Não estamos mais no viés de prender membros de escalões inferiores da organizaçã­o ou apenas apreender drogas”, disse o delegado e coordenado­r geral de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da Polícia Federal, Elvis Secco. Conforme o delegado, outras operações semelhante­s vão ocorrer.

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POLÍCIA FEDERAL Apreensão. Polícia encontrou R$ 2 milhões e US$ 730 mil durante buscas em uma casa de Santos, no litoral paulista

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