O Estado de S. Paulo

Biden e Trump trocam acusações nos EUA

Candidato democrata cita nominalmen­te pela primeira vez o rival e acusa o presidente de incitar a violência durante os protestos antirracis­mo; já o republican­o tenta retratá-lo como um defensor de radicais de esquerda e fraco na área de segurança pública

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O presidente dos EUA, Donald Trump, e seu rival democrata, Joe Biden, subiram ontem o tom da campanha eleitoral americana. Ambos tentam dar uma resposta à violência que tomou conta dos protestos contra o racismo em algumas cidades americanas, culpando um ao outro pelo caos e pela morte de três manifestan­tes.

Ontem, em discurso em Pittsburgh, Biden condenou os saques e a destruição de propriedad­es durante os protestos, mas acusou Trump de incitar a violência. “O presidente há muito tempo abdicou de qualquer liderança moral”, disse o democrata. “Ele não consegue parar a violência, porque por anos ele a incentivou.”

O discurso marcou um rompimento com o tom moderado adotado por Biden na convenção democrata, quando ele nem sequer falou o nome do presidente. Ontem, Trump foi citado 32 vezes. Em uma delas, o democrata se dirigiu diretament­e a ele. “Trump, você quer falar sobre o medo? Você sabe do que as pessoas têm medo na América? Elas têm medo de pegar covid, têm medo de ficar doentes e morrer. E isso por sua culpa.”

Biden parece ter cedido à pressão de setores do partido que pediam para que ele fosse mais agressivo. A resposta dos dois candidatos à violência registrada nos protestos antirracis­mo, especialme­nte em Estados-chave, como Wisconsin, virou prioridade das duas campanhas.

Por isso, apesar dos apelos das autoridade­s estaduais e municipais, Trump confirmou que vai hoje a Kenosha, no Estado de Wisconsin, onde um policial disparou sete vezes à queimaroup­a pelas costas contra o negro Jacob Blake, na semana passada – ele sobreviveu, mas está paralisado da cintura para baixo. “Eu não sei o que o presidente pretende fazer aqui. Não precisamos disso agora”, afirmou Mandela Barnes, vice-governador de Wisconsin.

Os tiros em Blake desataram uma nova onda de protestos contra a violência policial em várias partes do país. Em Portland, onde um militante foi morto no sábado, as manifestaç­ões ocorrem há 95 dias seguidos, desde a morte do negro George Floyd, asfixiado por um policial branco, em maio, na cidade de Minneapoli­s.

Em uma dessas manifestaç­ões, em Kenosha, no dia 25, o jovem Kyle Rittenhous­e, de 17 anos, apoiador de Trump, descarrego­u seu fuzil AR-15 e matou dois manifestan­tes que protestava­m contra o racismo. A violência foi imediatame­nte condenada por vários líderes políticos, mas muitos republican­os saíram em defesa do atirador, transforma­do em “herói” por ter defendido a cidade da ação de “anarquista­s”.

O próprio Trump vem evitando criticar Rittenhous­e. Ontem, na Casa Branca, o presidente novamente rejeitou condenar o adolescent­e e justificou a reação do atirador, sugerindo que ele teria agido em legítima defesa. “Ele (Rittenhous­e) estava tentado se livrar deles (manifestan­tes). Ele caiu e foi violentame­nte atacado”, disse Trump.

No fim de semana, houve mais uma morte, quando uma caravana de 600 carros com simpatizan­tes de Trump de chegou a Portland para demonstrar apoio ao presidente. Eles entraram em confronto com moradores e ativistas do Black Lives Matter, grupo que luta contra o racismo nos EUA. Na confusão, Aaron Jay Danielson, um militante de extrema direita, morreu baleado.

Desde então, Trump prestou uma homenagem a Danielson no Twitter e vem postando mensagens que parecem incentivar mais violência – entre elas um vídeo em que seus apoiadores atiram contra manifestan­tes em Portland usando armas de tinta e spray de pimenta.

Atrás nas pesquisas, a estratégia do presidente e dos republican­os é retratar Biden como um defensor dos grupos radicais de esquerda e um candidato fraco em matéria de segurança pública. “Acabei de assistir ao que Biden tinha a dizer”, afirmou o presidente. “Ele está acusando a polícia bem mais do que os baderneiro­s, anarquista­s, agitadores e vândalos, que ele jamais poderia culpar para não perder o apoio da esquerda radical.”

Ontem, Biden, de 77 anos, que sempre foi um político moderado, reagiu. “Deixe-me perguntar uma coisa a vocês: eu pareço um socialista radical com uma queda por arruaceiro­s?”, perguntou. “Eu quero um país seguro, livre do crime, livre dos saques, livre da violência racial e livre de mais quatro anos de Donald Trump.”

Crime

• Autoridade­s de Portland disseram que o homem morto sábado foi atingido por um tiro no peito. Ele apoiava o grupo de extrema direita Patriot Prayer.

Em campanha

• “Trump, você quer falar sobre o medo? Você sabe do que as pessoas têm medo na América? Elas têm medo de pegar covid, têm medo de ficar doentes e morrer. E isso por sua culpa.”

Joe Biden

CANDIDATO DEMOCRATA

À PRESIDÊNCI­A

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AUL LOEB/AFP Tom acima. Joe Biden fez ataques diretos em seu discurso em Pittsburgh: ‘Quero um país livre de Trump’

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