IOGA CONTRA O MEDO
Pesquisa sobre saúde mental reforça importância da atividade física.
Pare para pensar por um instante e tente se lembrar de como você estava se sentindo em meados de março, quando o Brasil praticamente parou por causa da pandemia do novo coronavírus. Comércio fechado, ruas desertas, algumas empresas adotando o home office. Todos tentando se adaptar às rotinas, seja cumprindo isolamento social ou, com a necessidade de sair para trabalhar, se protegendo contra a covid-19.
Um sentimento de fragilidade. De impotência diante do desconhecido. De ameaça. Assim estava a jornalista Débora Costa e Silva, de 34 anos. “O que tive foi muito medo, muito pesadelo, muita ansiedade. Fiquei apavorada e comecei a ter pesadelos. Fiquei com mais medo e muita tristeza”, relembra.
Um estudo conduzido pelo Instituto Bem do Estar e pela NOZ Pesquisa e Inteligência mapeou a saúde mental durante a pandemia. Realizado com 1.515 brasileiros de todas as regiões, idades e classes sociais, o levantamento avaliou questões como hábitos e rotinas, sentimentos e reações físicas, e impacto na alimentação e na libido de casados e solteiros entre 7 e 31 de maio de 2020. O perfil da amostra é composto por 21% homens, 71% mulheres e 7% não informado. A maior parte dos entrevistados (75%) mora no Estado de São Paulo, epicentro da pandemia no Brasil, e 25% distribuídos por todas as regiões do País.
O medo foi o sentimento predominante durante o período analisado para 71% dos entrevistados, seguido do aumento da preocupação e insegurança. “Analisando os depoimentos coletados na pesquisa fica claro que o medo não é proveniente de um só fator, além de todas as consequências causadas pela pandemia, tanto relacionadas à saúde – ficar doente, contaminar alguém e até mesmo da morte –, mas também das consequências econômicas, como a perda de renda e o desemprego”, ressalta a pesquisadora Juliana Vanin.
Um participante do estudo, cuja identidade será preservada, chegou a confessar: “Estou muito nervoso com essa situação. Eu me sinto preso. Tenho medo, me sinto sob pressão. Vejo tantas mortes e temo por pessoas próximas a mim. Isso é o que mais me deixa nervoso, ansioso e sob pressão. Estou vivendo um turbilhão de emoções e tento não surtar. Apesar de estar bem, a sensação de insegurança é um fantasma que me acompanha. Como queria que tudo isso acabasse.”
A engenheira florestal Gabriela Alejandra da Cruz Malpeli, de 36 anos, também identificou as mesmas emoções. “No começo da pandemia, eu estava mais preocupada com a doença, com o senso de proteção contra o vírus. Não fiquei tão preocupada comigo, com o que eu estava sentindo, então, estava mais focada no vírus e formas de me proteger contra ele”, conta.
Antes do isolamento social, Gabriela saía para caminhar ou correr todos os dias em um parque na cidade de Piracicaba, onde mora. Mas o local foi interditado. “Senti que precisava buscar alguma coisa. A academia não fechou no mesmo momento, mas depois. Foi questão de dias para as coisas irem fechando. Vi no Facebook uma amiga que é professora de ioga e me chamou pra fazer”, diz.
Anne Rocha, amiga de Gabriela, foi a responsável por incentivar a ioga em tempos de quarentena. “Senti as mudanças no mesmo dia. Sou uma pessoa que, quando fico emocionalmente ‘mexida’, sinto muita tensão no corpo, então, a ioga é uma forma que encontrei para relaxar. Depois da prática, consigo focar mais nos estudos.”
Sobre a realização de atividades ligadas à mente e à rede de apoio, 28% dos entrevistados da pesquisa Saúde da Mente & Pandemia apontam que estão praticando meditação e 13% ioga. “Notamos claramente os benefícios que atividade física pode gerar para a saúde mental, especificamente no período de isolamento. Quando comparamos a prática de atividade física e o aumento de sentimentos vinculados à depressão e ansiedade, percebemos, por exemplo, que, enquanto 61% dos que reduziram a atividade física se sentiram mais desanimados devido ao isolamento social, entre os que conseguiram aumentar muito a frequência esse número caiu para 38%”, informa Juliana Vanin, da Noz Pesquisa e Inteligência.