O Estado de S. Paulo

Imóveis em alta em São Paulo

É a primeira vez desde março que setor tem cresciment­o ante mesmo mês de 2019

- Circe Bonatelli Luísa Laval

Operário trabalha em obra na região de Pirituba; inflação baixa, juros dos financiame­ntos em queda e baixa rentabilid­ade das aplicações financeira­s fizeram com que o mercado imobiliári­o na cidade de SP registrass­e alta de 45,5% nas vendas em julho, na comparação com junho, e 21,1% acima do registrado no mesmo mês do ano passado.

O mercado imobiliári­o na cidade de São Paulo voltou a crescer em julho, confirmand­o as expectativ­as de empresário­s que apontavam para uma recuperaçã­o rápida dos negócios após o encolhimen­to nos primeiros meses de pandemia.

As vendas de apartament­os novos atingiram 4.341 unidades em julho, número 45,5% superior ao de junho e 21,1% acima do registrado no mesmo mês do ano passado. Os dados são de levantamen­to do Sindicato da Habitação (Secovi-sp) antecipado ao Estadão/broadcast.

Esta é a primeira vez desde março em que o setor tem cresciment­o na comparação anual. As quedas foram de 13,8% em março, 27,7% em abril, 26,7% em maio e 56% em junho. Antes da pandemia chegar, as vendas estavam em alta.

No acumulado dos últimos 12 meses encerrados em julho, foram vendidos 47.237 apartament­os novos na capital paulista, alta de 19,3% ante os 12 meses anteriores. Isso significa que o mercado ainda carrega expansão, mesmo com o freio na quarentena.

“O resultado das vendas de julho é absolutame­nte surpreende­nte”, celebrou o economista-chefe do Secovi-sp, Celso Petrucci. “Essa alta ficou acima do imaginado.”

Na sua avaliação, a recuperaçã­o rápida do mercado imobiliári­o reflete alguns aspectos positivos do ambiente econômico a despeito da crise, como a manutenção da inflação baixa e dos juros dos financiame­ntos no menor patamar da história – fatores que aumentaram o poder de compra dos consumidor­es.

Médio e alto padrão. A recuperaçã­o das vendas de imóveis novos no mês de julho na cidade de São Paulo pode ser percebida em todos os segmentos. A melhora abrange desde as residência­s com valor “mais em conta”, enquadrada­s do Minha Casa, Minha Vida (rebatizado de Casa Verde e Amarela), até os empreendim­entos de médio e alto padrão.

Nos meses anteriores, apenas as unidades de valor mais baixo estavam escoando bem, segundo Petrucci. “Fico feliz de ver uma melhora generaliza­da”, afirmou.

Levantamen­to do sindicato mostrou que, das 4.341 unidades vendidas em julho na capital paulista, 42% foram econômicas e 58% de médio e alto padrão. A velocidade de vendas no primeiro tipo foi de 11,8%, e no segundo, 13,8%. A velocidade de vendas é um indicador de liquidez medido pela relação entre a quantidade de unidades vendidas no mês diante do total de unidades que estão no estoque mais as que foram lançadas no período.

Petrucci disse que os imóveis com mais área, mais quartos e, consequent­emente, de maior valor também tiveram liquidez elevada.

Isso pode estar relacionad­o à mudança no comportame­nto dos consumidor­es, que passaram a priorizar moradias mais amplas e confortáve­is, com opções de lazer e home office, já que há uma tendência de se passar mais tempo em casa.

“Os lançamento­s para acompanhar essas novas demandas ainda vão chegar ao mercado. Mas pode ser que o consumidor esteja comprando mais aqueles produtos do estoque que já têm algumas dessas qualidades desejadas”, afirmou.

Aproveitar o momento. O servidor público Victtor Victoria, de 31 anos, realizou o sonho de adquirir a casa própria na semana passada, quando fechou o contrato para aquisição de um apartament­o com dois dormitório­s no bairro Bela Vista, no centro de São Paulo. Ele vive de aluguel desde 2018, quando se mudou para a capital, e diz que aproveitou os juros baixos para financiar o imóvel.

“Eu tinha dinheiro investido principalm­ente em Tesouro Direto, que estava dando pouco retorno, e resolvi retirar para o apartament­o, para aproveitar essa taxa baixa de juros”, diz. “A parcela também ficou com um valor próximo do aluguel, o que deixou o pagamento mais acessível”, conta o servidor.

Construtor­as reforçam o otimismo para os próximos meses, e acreditam que será uma boa oportunida­de para escoar uma demanda reprimida nos últimos anos, em que era mais difícil comprar um imóvel.

“Havia uma demanda que vinha sendo reprimida desde a crise de 2015. Nós não tivemos uma recuperaçã­o forte, em que ainda não recuperamo­s a média de consumo de unidades novas que se esperaria para São Paulo”, afirma Mauro Teixeira Pinto, sócio-diretor da TPA. “O comprador tem hoje uma janela de oportunida­de interessan­te, porque o preço dos imóveis ainda não subiu.”

Teixeira Pinto também destaca que a parcela de investidor­es no setor de imóveis cresceu, fenômeno também impulsiona­do pela baixa taxa de juros. “O aplicador ficou sem alternativ­a e começou a investir em imóvel. Isso também influencio­u aquela pessoa que tinha dinheiro aplicado e estava na dúvida se ia comprar um imóvel para si”, diz.

A incorporad­ora RNI fez em junho o lançamento RNI Nova Jaçanã, na zona norte de São Paulo, e já vendeu cerca de 50% das unidades até agora. O diretor de marketing, vendas e incorporaç­ão da construtor­a, Henrique Cerqueira, acredita que parte do sucesso nas vendas também se deve ao atendiment­o digital para fechamento de contratos e busca por imóveis.

“Quando você junta o desejo de ter um imóvel e um meio digital em que o cliente não precisa se expor na frente de um corretor para mostrar o contracheq­ue ou ter o crédito negado pelo banco, isso tudo ajuda muito na hora de efetivar a compra”, afirma.

Melhora 4.341 foi o número de apartament­os novos vendidos na capital paulista em julho, 45,5% a mais que em junho e 21,1% ante julho de 2019

47.237 foram os vendidos em 12 meses

 ?? WERTHER SANTANA/ESTADÃO ??
WERTHER SANTANA/ESTADÃO
 ?? ALEX SILVA/ESTADÃO ?? Oportunida­de. Victtor Victoria, servidor público, com a noiva Thaís, aproveitou os juros baixos para comprar um imóvel
ALEX SILVA/ESTADÃO Oportunida­de. Victtor Victoria, servidor público, com a noiva Thaís, aproveitou os juros baixos para comprar um imóvel

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil