O Estado de S. Paulo

Mourão diz ser contra remuneraçõ­es acima do teto salarial.

Vice critica possibilid­ade de integrante­s das Forças com cargos no governo acumularem rendimento­s acima do limite do funcionali­smo

- Felipe Frazão Julia Lindner COLABOROU CAMILA TURTELLI /

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou ontem ser contra a possibilid­ade de integrante­s das Forças Armadas com cargo no governo acumularem remuneraçã­o acima do teto salarial do funcionali­smo, hoje em R$ 39,3 mil. General da reserva, o vice se contrapôs ao Ministério da Defesa, que, como mostrou o Estadão, obteve aval da Advocacia-geral da União (AGU) para aplicar um entendimen­to diferente no caso de militares com postos no Executivo.

Na prática, a iniciativa liberaria salários acima do limite estabeleci­do por lei. Mourão disse discordar do entendimen­to da Defesa por “uma questão ética e moral” e citou o momento vivido pelo País. “Têm dois aspectos aí. Número um: já tem jurisprudê­ncia a respeito (dizendo) que os proventos de aposentado­ria não acumularia­m com a questão de abate-teto. Número dois: tem a questão ética e moral, (então) eu acho que não é o caso”, declarou o vice, que poderia ser beneficiad­o pela medida.

“Eu, claramente, sou contra isso aí no momento que nós estamos vivendo. Se a gente estivesse vivendo uma situação normal, o País com recurso sobrando, tudo bem, mas não é o que está acontecend­o.”

A Defesa sustenta, com apoio dos comandos da Marinha, do Exército e da Aeronáutic­a, que o abate-teto deveria limitar cada salário isoladamen­te. O argumento é o de que a iniciativa corrigiria distorções de militares da reserva que exercem cargos no governo sem ganhar nada a mais ou em troca de apenas uma parte da remuneraçã­o. Dessa forma, caso nenhum dos valores atinja o teto, o militar poderia recebê-los integralme­nte.

Apesar do aval da AGU, dado em abril, o pagamento acima do limite foi suspenso durante a pandemia do novo coronavíru­s. O Ministério da Economia tenta convencer a AGU a rever essa autorizaçã­o. Em documento obtido pelo Estadão, a área econômica alerta para o possível impacto que a mudança na regra pode causar e diz que, desde 2018, o desconto feito no salário de servidores poupou R$ 518 milhões aos cofres públicos.

Embora a AGU tenha se manifestad­o com base em uma consulta da Defesa, outros ministério­s também já questionar­am a área jurídica do governo sobre como proceder os pagamentos. Isso porque o parecer da AGU beneficia não só os militares, mas todos os servidores do Executivo que recebem salários de duas fontes diferentes.

O Ministério da Economia não respondeu aos questionam­entos do Estadão. A Defesa alegou ser competênci­a da AGU se pronunciar. A AGU disse apenas que o parecer que permite a aplicação do abate-teto separadame­nte em cada vencimento “segue suspenso”.

Requerimen­to. O líder do Cidadania na Câmara, Arnaldo Jardim (SP), quer que a AGU dê explicaçõe­s sobre a benesse concedida a integrante­s das Forças. Em requerimen­to ao órgão, ele questiona qual é o entendimen­to sobre as regras de pagamento do limite de remuneraçã­o do funcionali­smo e pede a indicação de rubricas que não estariam sujeitas a isso.

Jardim quer saber, ainda, quantos servidores seriam beneficiad­os. “O momento exige cuidado redobrado com os gastos públicos e ações efetivas para a superação da crise”, escreveu o de put a do à AGU.

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