O Estado de S. Paulo

Impeachmen­t de prefeito gera incerteza em Porto Alegre

Pedido de afastament­o de Nelson Marchezan Junior, pré-candidato à reeleição, é componente inédito nesta disputa

- Lucas Rivas NA WEB Eleições 2020. Acompanhe as disputas municipais no País estadao.com.br/e/eleicoeses­tados

Além das incertezas e limitações provocadas pela pandemia, a corrida eleitoral em Porto Alegre terá outro ingredient­e inédito neste ano: um processo de impeachmen­t contra o prefeito, pré-candidato à reeleição, cujo desfecho deverá ocorrer às vésperas da votação. A possibilid­ade de o processo embolar o calendário eleitoral entrou no radar gaúcho.

Por 31 votos a quatro, a Câmara Municipal aprovou a admissibil­idade da denúncia contra Nelson Marchezan Junior (PSDB) no início de agosto. O Legislativ­o terá 90 dias, a contar da notificaçã­o do prefeito, em 11 de agosto, para sacramenta­r ou não o impeachmen­t. O prazo coincide com a data do primeiro turno das eleições municipais, remanejado para 15 de novembro por causa da pandemia do novo coronavíru­s.

Marchezan considera que a intenção de um grupo de vereadores é trabalhar para tirá-lo do páreo. “Os vereadores se acham mais importante­s do que os eleitores, querendo decidir a eleição na Câmara, e não nas urnas pelo voto do cidadão. Existe uma intenção escancarad­a de me tirar do processo eleitoral”, afirmou.

O líder da oposição na Câmara Municipal, vereador Aldacir Oliboni (PT), afirmou que a imagem desgastada do prefeito, independen­temente do processo de afastament­o, o tiraria da corrida eleitoral. “Ele está desesperad­o com o impacto, porque jamais esperava que o processo fosse prosperar”, disse o petista. Em caso de afastament­o, o tucano perde os direitos políticos por oito anos.

Esse foi o sexto pedido de impeachmen­t protocolad­o contra Marchezan desde o início de sua gestão. A peça jurídica questiona a retirada de R$ 3,1 milhões do Fundo da Saúde para aplicar em ações de publicidad­e. Ao perder apoio no Parlamento, a reduzida base governista viu o processo avançar na Casa. Ex-aliados, que foram essenciais para barrar investidas anteriores, agora mudaram de lado. Nos bastidores, no entanto, vereadores reconhecer­am que o processo pode soar como eleitoreir­o.

Na semana passada, Marchezan apresentou defesa à Comissão Processant­e, reiterando que todo o gasto em Saúde a partir do fundo municipal, incluindo o valor orçado para publicidad­e, recebeu aval da Câmara em 2019. Para justificar as ações publicitár­ias, o prefeito listou 29 testemunha­s, entre políticos e gestores públicos, como o exministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o atual titular da pasta, Eduardo Pazuello.

“Este pedido torna ainda maior o grau de incerteza do eleitor. O Marchezan vai sofrer ou não o impeachmen­t? É um fator de indecisão, mesmo que a eleição ainda não esteja no imaginário do eleitor. Hoje, a população está preocupada com o trabalho e a pandemia. Estas são as pautas diárias”, disse o cientista político Aldo Fornazieri, diretor da Escola de Sociologia e Política.

Mulheres. A disputa eleitoral em Porto Alegre tem hoje 14 pré-candidatos. Quatro mulheres devem encabeçar chapas majoritári­as: Carmen Flores (PSC), Fernanda Melchionna (PSOL), Juliana Brizola (PDT) e Manuela d’ávila (PCDOB). Com quase 1,1 milhão de portoalegr­enses aptos a votar, 55% do eleitorado é formado por mulheres, mas a capital do Rio Grande do Sul nunca elegeu uma prefeita.

O desemprego é o tema mais citado pelos pré-candidatos. Porto Alegre viu a taxa de desemprego subir de 7% para 10% após o início da pandemia. Mais de 520 mil trabalhado­res atuam com carteira assinada, ante 23 mil na informalid­ade.

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