O Estado de S. Paulo

Fake news não se combatem apenas com leis, dizem analistas

Para participan­tes de debate do ‘Medialab Estadão’, regular conteúdo na internet traz riscos à liberdade de usuários

- Bianca Gomes

A desinforma­ção é um fenômeno muito complexo para ser combatido apenas por meio de leis, como propõe o projeto sobre fake news aprovado no Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados. Ao contrário, a regulação oferece riscos à liberdade de expressão, avaliaram especialis­tas que participar­am do webinar Fake news e as consequênc­ias para a democracia.

O evento foi realizado ontem pelo Medialab Estadão em parceria com a Rede de Ação Política pela Sustentabi­lidade (Raps). O debate foi conduzido pelo jornalista Alberto Bombig, editor da Coluna do Estadão.

“A forma como o projeto de lei se estrutura hoje, em grande medida, foca no conteúdo e silencia as pessoas”, disse a gerente de Políticas Públicas do Facebook no Brasil, Monica Rosina. “Com esse foco, o risco que se corre é punir sempre o desavisado.”

Editor do Estadão Verifica e do Estadão Dados, o jornalista Daniel Bramatti afirmou que outros países, sob o pretexto de buscar o combate à desinforma­ção, acabaram atingindo a liberdade de expressão. “Governos autoritári­os aprovaram leis contra fake news para reduzir a livre circulação de ideias e suprimir a possibilid­ade de críticas em seus países. Isso tem acontecido e é um alerta no momento em que temos um projeto tramitando aqui no Brasil.”

Democracia. A ideia de liberdade está “embutida” na história da internet, avaliou o cientista Demi Getschko, colunista do Estadão e um dos pioneiros da internet no Brasil. “Ela não tem nenhum papel de controlar conteúdos.” Para ele, a internet trouxe mais democracia direta e maior participaç­ão, “mas, ao trazer essas coisas, ela expôs fragilidad­es que são naturais do nosso tecido social.”

O fenômeno da desinforma­ção é considerad­o hoje um risco para as democracia­s, afirmou a diretora executiva da Raps, Mônica Sodré. “Ter informaçõe­s por vezes fragmentad­as e falsas pode compromete­r a qualidade da nossa democracia.”

Segundo ela, é preciso alfabetiza­r as pessoas do ponto de vista “midiático” e ter legislação. “Mas me parece que a gente deveria estar mais no nível de comportame­nto, garantir que comportame­ntos inautêntic­os que hoje abalam o debate por conta de mecanismos artificiai­s sejam vetados.”

 ?? ESTADÃO ?? ‘Live’. Mônica Sodré é diretora executiva da Raps
ESTADÃO ‘Live’. Mônica Sodré é diretora executiva da Raps

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil