O Estado de S. Paulo

Hamas e Israel fecham trégua em Gaza

Acordo mediado pelo Catar permitirá a entrada no território de suprimento­s e combustíve­l, que abastecerá a única central elétrica

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Israel e o movimento islâmico palestino Hamas, que há mais de uma década controla a Faixa de Gaza, anunciaram ontem um “acordo” para encerrar a troca quase diária de ataques e permitir a entrada de suprimento­s e combustíve­l no território.

“Após diversos contatos, o último mediado pelo emissário do Catar, Mohamed el-emadi, foi alcançado um acordo para conter a escalada e pôr fim à agressão sionista contra nosso povo”, disse Yahya Sinwar, líder do Hama em Gaza.

O Exército israelense tem bombardead­o a Faixa de Gaza quase todas as noites, desde o dia 6, em retaliação ao lançamento de balões incendiári­os e de foguetes do território palestino. Em resposta a esses lançamento­s, que provocaram mais de 400 incêndios em Israel, segundo contagem dos bombeiros, o governo israelense reforçou seu bloqueio à Faixa de Gaza, impedindo a passagem de mercadoria­s e interrompe­ndo o fornecimen­to de combustíve­l, o que obrigou o fechamento da única central elétrica.

De acordo com uma fonte do Hamas, que pediu anonimato, todas as facções palestinas presentes na Faixa de Gaza concordara­m em pôr fim aos lançamento­s de balões incendiári­os e projéteis.

A agência israelense responsáve­l por lidar com os território­s palestinos disse, em um comunicado, que a passagem será reaberta para a entrada de suprimento­s e os pescadores poderão voltar ao trabalho. Israel advertiu, porém, que essas decisões estão sujeitas à manutenção da segurança na região.

De acordo com o governo israelense, Gaza voltará a ser reabasteci­da de combustíve­l a partir de hoje, o que permitirá que a central elétrica volte a funcionar na cidade.

Em troca do fim das agressões, serão impulsiona­dos projetos para melhorar as más condições e a precária realidade econômica de Gaza, que enfrenta um rigoroso bloqueio israelense desde 2007, quando o Hamas venceu as eleições palestinas. Os bloqueios criam dificuldad­es de abastecime­nto de produtos básicos, como remédios e comida, para a população.

Desenvolvi­mento. Espera-se que as iniciativa­s sejam lideradas pelo Catar, que desde 2018 entrega milhões de dólares em ajuda para a empobrecid­a população de Gaza. O Hamas disse, em comunicado, que, como resultado dos esforços de mediação indireta liderados por Egito, ONU e Catar, “vários projetos serão anunciados para servir ao nosso povo na Faixa de Gaza e contribuir para mitigar as difíceis condições de vida”. O grupo não detalhou nenhum dos projetos.

Durante as negociaçõe­s, por meio de intermediá­rios, o Hamas buscou uma flexibiliz­ação mais ampla das restrições ao território, aumento dos suprimento­s de Israel e projetos econômicos em grande escala para ajudar a reduzir o desemprego. A taxa de desemprego em Gaza ultrapassa os 40% – entre os jovens é de 50% –, e 21% de seus habitantes vivem em situação de extrema pobreza.

Segundo analistas, o recente aumento de tensão e o lançamento dos balões incendiári­os foram métodos de pressão do Hamas para forçar Israel a permitir a entrada de ajuda financeira ao enclave, onde vivem 2 milhões de palestinos.

Por ser um território bloqueado, com forte controle sobre quem entra e quem sai, a Faixa de Gaza foi por um algum tempo um dos lugares mais seguros com relação ao novo coronavíru­s. No entanto, na semana passada, registrou os primeiros contágios entre sua população fora dos centros de quarentena.

Desde então, os contágios por transmissã­o comunitári­a não pararam de aumentar e já foram registrado­s mais de 240 casos. A doença entrou no território por meio das pouquíssim­as pessoas autorizada­s a viajar. O sistema de saúde do território é precário e a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS) já advertiu que a Faixa de Gaza não terá como lidar com um grande surto.

Inimigos antigos. A Faixa de Gaza foi tomada por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e entregue aos palestinos em 2005 para fazer parte de um futuro Estado da Palestina. Mas boa parte das fronteiras, os espaço aéreos e a costa de Gaza continuara­m sendo controlado­s pelos israelense­s.

Israel e o Hamas são inimigos ferrenhos, já travaram três guerras e tiveram inúmeras escaramuça­s desde que o grupo militante islâmico assumiu o controle de Gaza, em 2007, depois de expulsar as forças da Autoridade Palestina.

Desde então, Israel e Egito mantêm um bloqueio a Gaza, alegando que as restrições são necessária­s para impedir o Hamas, considerad­o um grupo terrorista, de se armar. Uma das alternativ­as aos bloqueios foram os túneis de contraband­o, que se proliferar­am pelo território e eram usados para a chegada de alimentos, dinheiro, armas, combustíve­l e materiais de construção.

O fluxo foi interrompi­do após operação contra essas passagens subterrâne­as, em 2013. A consequênc­ia foi a escassez desses materiais e a alta nos preços dos alimentos. Também causou desemprego nas áreas da construção civil e transporte­s, que dependem dos túneis.

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MAHMUD HAMS / AFP - 28/08/2020 Retaliação. Local atingido na Faixa de Gaza por ataque aéreo de Israel; território registra aumento de casos de covid-19

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