O Estado de S. Paulo

Projeto altera Lei Cidade Limpa e permite outdoors

Proposta já passou em primeira votação na Câmara e autoriza a publicidad­e nos topos de prédios; especialis­tas rejeitam a mudança

- Gonçalo Junior

A Lei Cidade Limpa, criada em 2006 para limitar o uso da publicidad­e na paisagem urbana em São Paulo, proibindo a colocação de peças publicitár­ias em espaços públicos, pode sofrer a mudança mais significat­iva desde a criação. A Câmara Municipal aprovou, em primeira votação, um projeto de lei que permite a instalação de outdoors no topo de prédios. Temendo a volta da poluição visual, especialis­tas criticam o projeto.

Para entrar em vigor, a proposta ainda precisa ser aprovada em mais uma votação e, depois, ser sancionada pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). Procurada pelo Estado, a Prefeitura informou que não vai se pronunciar enquanto o projeto estiver em discussão na Câmara.

O projeto de lei 898/2013, de autoria do presidente da Câmara, Eduardo Tuma (PSDB), altera os artigos 18 e 44 da Lei 14.223. O vereador argumenta que a instalação de outdoors na cobertura dos prédios depende da aprovação pela Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU), órgão vinculado à Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciame­nto e formado por representa­ntes do poder público e da sociedade civil.

“A paisagem arquitetôn­ica será preservada, nos moldes do que já ocorre em outros países onde esse tipo de publicidad­e é permitida. Não se trata, portanto, de uma liberação geral e sem controle”, afirma Tuma, que considera a mudança na lei importante neste momento de pandemia. “A mudança vai permitir geração de renda, aqueciment­o da economia e ampliação da receita tributária.”

A primeira votação ocorreu na quarta-feira, em caráter nominal, ou seja, apenas os vereadores contrários se manifestar­am. O projeto foi rejeitado pelas bancadas de PT, PSOL e mais oito vereadores de outros partidos. A Comissão de Proteção à Paisagem Urbana (CPPU) preferiu não se manifestar, pois também aguarda a tramitação na Câmara. O Estado apurou que ela recebeu o projeto com ressalvas. Representa­ntes do poder municipal argumentam que a permissão de publicidad­e para um setor – no caso, os edifícios – fere o princípio constituci­onal da isonomia e pode gerar reação em cadeia. Bancas de jornais, por exemplo, também vão reivindica­r a autorizaçã­o para exibir mensagens publicitár­ias, caso o projeto seja aprovado. Especialis­tas também questionar­am a proposta de mudança. Argumentam que a proibição da publicidad­e valoriza o ambiente natural e construído da cidade e contribui para preservar a memória urbana.

Sucesso mundial. O engenheiro civil e doutor em Saúde Ambiental Ivan Maglio destaca que a lei é um case de sucesso mundial. “Ela traz avanços significat­ivos na qualidade da paisagem urbana. Há outras formas de trabalhar a economia sem destruir o que foi conquistad­o”, diz Maglio, pesquisado­r do programa Cidades Globais do IEA/ USP.

Para Gabriel Rostey, consultor em política urbana, a Lei Cidade Limpa promoveu a única conquista efetiva da cidade nas últimas décadas. “Sempre falamos dos mesmos problemas sem solução, como déficit habitacion­al, favelas, poluição dos rios e mobilidade urbana. A poluição visual foi resolvida”, diz Rostey, sócio-diretor da Culturb. Ele lembra que a diminuição dos espaços de publicidad­e aumenta o poder de barganha da Prefeitura com a iniciativa privada. “O poder público consegue conceder espaços de exploração publicitár­ia para receber, em troca, mobiliário urbano, por exemplo. Os novos pontos de ônibus da cidade não custaram nada para a população.”

• A favor

“Não se trata de liberação geral e sem controle. A mudança vai aquecer a economia, gerar renda e ampliar a receita.”

Eduardo Tuma

PRESIDENTE DA CÂMARA

 ?? JONNE RORIZ/ESTADAO-2/1/2007 ?? 23 de Maio. Especialis­tas elogiam redução de propaganda; para vereador, é opção de renda
JONNE RORIZ/ESTADAO-2/1/2007 23 de Maio. Especialis­tas elogiam redução de propaganda; para vereador, é opção de renda

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