‘Nós não desejamos mais reflexão, queremos ação’
Diogo Silva, ex-lutador e representante dos atletas na Confederação Brasileira de Taekwondo
Atleta comenta sobre movimentos recentes de atletas americanos e o poder do esporte de influenciar a sociedade
Diogo Silva foi um dos grandes nomes do taekwondo nacional. Participou de duas olimpíadas (Atenas-2004 e Londres-2012) e foi ouro no Pan do Rio, em 2007. Além de brilhar no esporte, ele sempre foi protagonista fora dele, por denunciar o racismo no Brasil, as más gestões e a corrupção.
Diogo conversou com o Estadão sobre as recentes manifestações de esportistas nos EUA em protesto contra a violência policial.
• Como você viu as manifestações nos EUA paralisando competições esportivas por causa de um ataque policial contra um homem negro?
Não foram as manifestações que paralisaram. Foram os atletas. Os atletas são organizados, têm sindicato, defendem seus direitos, são unidos e cobram respostas das organizações esportivas e da sociedade. As pessoas gostam de assistir aos jogos, comer seu amendoim e tomar sua cerveja. Os atletas estão dando uma resposta a essas pessoas: se continuarem nos matando, nós vamos ferrar sua diversão, você não terá mais como relaxar; se estiver ruim para nós, também estará ruim para você. O sistema detesta perder dinheiro e quando um jogo é adiado é isso que acontece, ele perde dinheiro. O dono do time perde, o torcedor perde, o patrocinador perde.
Diogo Silva
EX-LUTADOR DE TAEKOWDON ‘Nesse momento é o esporte que está enfrentando o racismo de uma forma pública’
• Você acredita que o esporte tem potencial de levar reflexões importantes para a sociedade? Nesse momento é o esporte que está enfrentando o racismo de forma pública. Os atletas negros não estão deixando as manifestações e as cobranças serem uma onda, nós transformamos a onda em tsunami e queremos ver tudo embaixo d’água. Não desejamos mais reflexão, queremos ação.
• Você acha que essa postura dos atletas nos EUA pode provocar mudanças na sociedade no futuro?
O futuro de ontem é hoje e já vejo as mudanças. Tempos atrás chamavam nossa causa de mimimi. Onde essas pessoas estão agora? Estão apavoradas, perceberam que não vamos recuar. O esporte pode modificar a sociedade, mas é necessário coragem.